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Publicado: Quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Documento Importante

Revisitando a minha biblioteca, o que faço regularmente, descansaram hoje meus olhos inadvertidamente, ao passá-los indagativamente pelas estantes, sobre um velho e desgastado volume, que folheando-o com cuidado, dado o seu estado de fragilidade e condições do papel e da encadernação, leio tratar-se de uma “ENCYCLOPEDIA DO POVO E DAS ESCOLAS” , e um sub título “MANUAL DE TODOS OS CONHECIMENTOS HUMANOS” cuja edição é datada de 1874, editado pela tipografia Lallemant Frères, Typ. Lisboa, rua do Thesouro Velho, 6, com escritório à Rua do Carvalho, 13.

Continuo folheando-o com o necessário cuidado e carinho, repassando as folhas cansadas pelos anos, amareladas e manchadas vão me revelando conteúdos e despertando ilações valiosas e memórias imperdíveis. Quero desde já confiá-las, compartilhá-las e colocá-las em papel branquinho atual, digitadas por esta máquina surpreendentemente mágica, maravilhosa, chamada computador, que à época da impressão deste precioso, inspirador e velho documento educacional, nem por sombras, nem por mentes sabichonas se sonhava, aventurava ou aventava com sua possibilidade de descoberta. Eram os usos e costumes de uma época ancestral muito anterior à minha chegada a este mundo. Que relevância e importância toma para mim portanto, ter entre mãos documento tão significativo, para a EDUCAÇÃO dos povos, preocupação vital para a dignificação do ser humano em sua longa caminhada evolutiva.

O texto é longo, estende-se por 706 páginas e, dividido em extensíssimos capítulos assinados por autoridades intelectuais da época, alguns membros da Academia Real das “Sciências” de Portugal e outros dos mais distintos “escriptores” estrangeiros. Vendia-se por 2$000 réis – moeda forte que não posso avaliar comparativamente, guardadas as épocas, com o seu valor de hoje.

O texto divide-se em interessantíssimos capítulos que se intitulam e se referem a tudo o que a ciência e conhecimentos da época requeriam como fundamentais à educação considerada básica de então. Incluíam História Sagrada e História Profana comparativamente, diversos títulos de história antiga , história moderna, períodos que remontam ao começo da memória dos povos bíblicos e dos esparsos e escassos, mas indicativos períodos e episódios que se sobressaem à mais primitiva documentação conhecida, depois da formação e assentamento de nosso globo terráqueo e, ao surgimento da vida, das prováveis civilizações, nações e grupos humanos. Vários como dissemos são os autores consagrados de então, segundo as matérias.

É um velho livro e, como velho, na era da eletrônica e do papai google que tudo sabe e a tudo responde, deve certamente deixar muito a desejar em termos de educação formal e da atualização de dados históricos e descobertas essenciais fundamentais e suas inter-relações dos últimos 140 anos. Faz quase um século e meio da data da sua publicação.
Mas, quero desde já ressaltar, que é preciso valorizar apropriadamente, a importância que esse documento, guardado e esquecido na biblioteca, comprova e representa na história evolutiva dos povos e de sua educação ou instrução, sobretudo no que se refere aos nossos povos de língua portuguesa. O significado que se atribuía à EDUCAÇÃO DO POVO, o que esta representava a importância que se lhe dedicava, no processo educacional de formação popular. E, isto na época plena da Monarquia e, não na do voto popular da República-democrática, que evolutivamente se baseia no poder que emana do povo, através do voto.

A Monarquia não precisava do voto popular para a sua existência. Era simplesmente assentada no Poder Divino dos Reis. A República no Brasil se implanta em 1889. Em Portugal a implantação da República se dá em 1910. O livro a que me refiro e folheio, dedicado à educação do Povo, com 706 páginas, de forma tão compenetrada, data a sua impressão de 1874, bastante antes portanto, daqueles históricos, significativos e importantes eventos. O livro amplamente incluía, ventilava, documentava todos os fatos históricos importantes, de todas as civilizações do mundo e focava temas que iam da cronologia de seus assuntos às ciências diversas, à matemática, história, à geografia, geometria, álgebra, geometria, topografia, astronomia, “physica”, “teoria dynâmica” do calor, “chimica”, história natural, “sciências” médicas, higiene, “Philosophia”, legislação, Direito, (político, administrativo, civil, comercial), “Mythologia”, gramatica, mecânica, arqueologia, Civilidade, economia política, escrituração comercial, religião, religiões diversas, “Theologia”, ciências ocultas, Concílios, espetáculos públicos, regozijos e festas da antiguidade, teatro antigo e moderno, belas artes, (desenho, pintura, escultura, gravura, “lithografia”, “architetura”), música, fotografia, “gymnástica”, história de Portugal, literatura geral, agricultura, história da marinha, os “chronistas” portugueses, “rethórica” e eloquência, etc. etc.

Ainda não se fala obviamente do enorme advento do telefone nem da máquina a vapor, prévia ao aparecimento e popularização do trem, porquanto estavam ainda distantes de sua tremenda importância no desenvolvimento explosivo em que se tornou depois. Mas havia já essa publicação intitulada “ENCYCLOPEDIA DO POVO E DAS ESCOLAS” biblioteca dos dois mundos, o antigo e o moderno, manual de todos os conhecimentos humanos de então, para divulgação e conhecimento popular.

O interessante é focar essa preocupação, com a cultura e conhecimento popular, do povo, específica e precisamente, ressaltada em documento tão evidente de 1874, antes do advento e implantação da república-democrática. Fica a indagação: Teriam sido as condições econômicas para um empreendimento desse porte, afinal realistas? Teria havido pelo visto as necessárias considerações, as condições mínimas de rentabilidade para que uma edição dessa magnitude fosse mais que presunção ou pretensões, para que se tornasse rentável e, portanto, possível? Haveria o percentual necessário de alfabetização que sustentasse racionalidade da tese justificativa para uma edição de um livro desse porte de 706 páginas?

Para tanto teria que haver grande difusão, empenho e ambição popular pelo saber e pela leitura e as condições par

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