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Publicado: Segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Walmor Chagas

Lá se foi Walmor Chagas. 82 anos. Grande ator. Bom leitor. Homem da arte, intelectual do palco, da televisão, da nação. Retirou-se para viver sozinho em uma pousada ou sítio, longe do todo assédio, de pessoas, públicos ou ruídos da civilização. Aparente e realmente estava no seu direito individual.

Em vida fez grandes papeis, interpretou fantásticos personagens, entre eles um general, que não era a favor da Ditadura, mas representava a dignidade do ser humano, em pró da justiça e do Bem Comum. General, que como Shakespeare definiu em sua obra Coriolano, também enfrentou o infortúnio da controvérsia ou dissidência, da manipulação dos que não estavam à altura de compreender a estatura e dignidade de sua tempera e aspiração civilizadora. Gostou Walmor Chagas, em especial desse personagem, o que não foi muito bem compreendido pelos “críticos preventivos de plantão”, general que afinal tentava redimir os altos princípios por que rezam as forças armadas, votadas à defesa da pátria e a altos desígnios do Bem Maior de todos, segundo disse oportunamente, gravado em uma entrevista, hoje distribuída pela Internet, em vídeo.

Dizem que se suicidou. Porque o teria feito? Por solidão? Porque era só ? Porquê solidão vivia? Por provável egoísmo ou egocentrismo ? Por não encontrar diálogo em seu isolacionismo voluntário? Por incapacidade de comunicação afável na intimidade? Por afirmar-se em íntima teimosia por convicções inamovíveis ? Por encontrar-se consciente de que suas forças vitais, pela idade o abandonavam? Por não poder mais ler com desenvoltura? Por não Poder criar? Por ausência de fé suficientemente alimentada desde cedo, nos patamares do sagrado, que é a vida, nem acreditar em qualquer transcendência? Que vida? A sua? Ou a de todos? A que não é já antes do tempo transcorrido consciente, na ocasião própria, adequada ao período da educação do caráter no aconchego familiar, na infância e na escola, abastecida pelas sugestões da Alma, pela mente, pelos hábitos saudáveis da convivência humana, pela educação e cultura, que aliás dominava, pelo intercambio generoso das ideias, pela concessão e adequabilidade de enfoques, visões próprias ou alheias? pelo diálogo constante e pelo espirito? Por mero desespero em hora de irrefletida impulsão? Por desinteligência com as causas ou incompreensão de uma realidade, afinal criada, previsível ou esperada ? Por doença incurável? Porque se tenha tornado porventura com os anos, criatura intratável, incomunicável, com a qual se torne difícil conviver? Como? Se era como todos asseveram e verificam por sua obra artística notável e seus dotes intelectuais, loquaz, comunicativo, um dos atores mais conscientes e inteligentes da nação? Cabem as indagações? Vá lá saber? . . . Só temos a lamentar e, com os que lhe são achegados, manifestarmo-nos realmente profundamente sentidos, afligidos, compungidos, pesarosamente, por sua perda.

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