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Publicado: Terça-feira, 31 de julho de 2012

Notas sobre a Fazenda Floresta de Itu-SP

CONTEXTO

A partir da segunda metade do século 18, as lavouras de exportação com extensas plantações de cana de açúcar modificam a paisagem e a dinâmica de ocupação das terras do interior paulista, principalmente, da região de maior concentração dessa cultura denominada de quadrilátero do açúcar. O quadrilátero era formado pelas localidades de Sorocaba, Piracicaba, Mogi-Guassu e Jundiaí destacando-se as localidades de  Itu e Campinas.        

Itu foi uma das primeiras localidades a ter se dedicado ao cultivo da cana-de-açúcar, o que ocasionou um grande aumento no número de escravos, edificações rurais, engenhos de açúcar, criações de gado, ovelhas, cavalos e do comércio de terras que fizeram desaparecer o sertão e impulsionaram o desenvolvimento urbano.

Em 1798, eram 107 os engenhos, no ano seguinte 113 e, em 1803, 130 engenhos. A população continuou a crescer e o número de escravos havia duplicado ao fim do período colonial. Em 1791, foram “importados 300 escravos vindo de Benguela para trabalhar nas plantações e na fabricação do açúcar”, cuja produção era destinada ao consumo e à exportação. Em 1783, a região de Itu era responsável pela maior parte do açúcar consumido na Província de São Paulo.

Entre as áreas destinadas a cultura da cana de açúcar, destaca-se a região do Pirahy de Baixo e do Pirahy de Cima, atualmente denominado de bairro do Pedregulho, região em que se concentrava um significativo número de escravos e de engenhos de açúcar tocados por energia hidráulica. A partir de 1850, com a valorização do café no mercado externo, algumas fazendas localizadas nessa região, transformaram suas atividades econômicas passando a se dedicar a esta cultura. Entre elas estão localizadas as fazendasFloresta, Piraí, Concórdia, Pinhal e Japão, atualmente denominada Capoava.

FAZENDA FLORESTA

A partir de 1857, com o falecimento de Francisco de Almeida Prado, a fazenda Floresta passou a pertencer a um de seus filhos o Capitão Bento Dias de Almeida Prado – Barão do Itaim – e, a partir de 1868, a propriedade foi adquirida por Francisco Emydio da Fonseca Pacheco.  

Francisco Emydio participou, em 1873, da Convenção de Itu tendo sido também Deputado e Senador por São Paulo. Em 1888, já como proprietário da fazenda Floresta destacou-se como o maior produtor de café de Itu, na qual chegou a ter em 1901, trezentos mil pés de café.

Com o falecimento deste, em 1901, a fazenda passou a pertencer a um de seus filhos Godofredo da Fonseca, cuja trajetória associa-se ao primeiro projeto instituído pelo Estado de São Paulo à introdução de imigrantes japoneses.

A FAZENDA FLORESTA E OS JAPONESES

O primeiro grupo de japoneses chegou ao Brasil no ano de 1908, proveniente de um contrato firmado, em 6 de novembro de 1907, entre o governo do Estado de São Paulo com a Companhia Imperial de Emigração com sede em Tókio, Japão.

Os imigrantes deixaram o porto de Kobe pelo vapor Kasato-Maru, aportando apenas em Singapura, na Ásia e na cidade do Cabo, na África antes de chegar ao Porto de Santos, sendo posteriormente transferidos por via férrea até o prédio da Hospedaria dos imigrantes na cidade de São Paulo, e daí para as fazendas cafeeiras com as quais o governo havia previamente entrado em acordo.

No Kasato-Maru, chegado a 18 de junho de 1908, vieram 781 imigrantes os quais foram encaminhados às 6 das principais propriedades agrícolas da época, como as  Fazendas Dumont  e Guatapará, de Ribeirão Preto; São Martinho, de Sertãozinho; Sobrado, de São Manuel; Chanann de São Simão e, finalmente, a Floresta de Itu.

Desses 781 imigrantes japoneses, 170 pessoas, em sua quase totalidade provenientes agricultores de Okinawa foram encaminhadas à fazenda Floresta, que naquela não, já pertencia a Godofredo da Fonseca que, em 5 de junho de 1908, dias antes da chegada desse primeiro grupo firmou o contrato de colocação dos japoneses em sua propriedade em Itu.

Além de Godofredo da Fonseca, houve interesse também por parte de Antonio Almeida Sampaio, que possuía uma fazenda de café na estação Pimenta para a introdução de imigrantes. Porém, esse projeto não se concretizou, sendo os imigrantes japoneses introduzidos apenas na Floresta.

Em agosto de 1908, Godofredo noticiava em carta redigida a Antonio Candido Rodrigues, secretário da Agricultura do estado de São Paulo que os imigrantes haviam plantado cereais e que pretendiam fazer uma grande lavoura de arroz. Neste mesmo ano, indicava que já haviam saído da sua fazenda 50 pessoas. Em julho de 1909, por meio de outro comunicado para o secretário, indicava que haviam se retirado de sua propriedade todos os imigrantes japoneses.   

Das análises feitas em inventários de 1870-1888, por Maria Regina Sader (1970: 58)

Contudo, outras propriedades daquele bairro haviam inserido o trabalho imigrante em suas propriedades, como a fazenda Floresta, que em 1875, muito antes do período da grande imigração, já contava com colonos italianos. Os que concederam liberdade a seus escravos, entretanto, condicionaram os libertos a prestar serviços por anos e décadas.

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