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Publicado: Quarta-feira, 20 de junho de 2012

Qual lado do cérebro você está exercitando?

Qual lado do cérebro você está exercitando?
Daniel Pink fala sobre a importância de estimular o lado direito do cérebro

Li o livro “A Whole New Mind” do Daniel Pink (ou “O Cérebro do Futuro”, na versão em português), há uns cinco anos em um curso de inovação e empreendedorismo, e pela primeira vez compreendi um pouco mais sobre o funcionamento dos dois hemisférios do nosso cérebro. De imediato me identifiquei com o ponto central do autor: o de que fomos muito habituados a usar o lado esquerdo do nosso cérebro – mais lógico, linear e focado, mas que nosso contexto atual pede por uma nova forma de pensar, onde as características do lado direito – mais intuitivo, criativo, empático e sistêmico, são fundamentais.

Isso porque vivemos na chamada “Era Conceitual”, que substitui a Era da Informação e sua antecessora Era Industrial (cujo funcionamento era típico das características do lado esquerdo, por isso sua predominância até os dias de hoje). Esta nova era é marcada, por exemplo, pelo paradoxo da abundância, onde satisfazemos necessidades materiais, mas nos sentimos vazios e carentes de significado. É também a era da tecnologia e automação, onde a máquina substitui o homem em muitas de suas funções lógicas. Finalmente, é a era de desafios complexos, que pedem soluções cada vez mais sistêmicas. Com isso, o pensamento linear e fragmentado, por mais que continue necessário, não é mais suficiente. Precisa dar espaço para um novo jeito de ver e interagir com o mundo.

Pink sugere então que devemos exercitar o lado direito do cérebro a partir de seis elementos (fazendo o contraponto com seus "pares" do lado esquerdo):

1. Não apenas FUNCIONALIDADE, mas também DESIGN: para criação de coisas mais belas e emocionalmente engajadoras.

2. Não apenas ARGUMENTO, mas também HISTÓRIA: para o entendimento de que uma narrativa causa maior impacto e identificação que um argumento isolado.

3. Não apenas FOCO, mas também SINFONIA: para a capacidade de síntese, de conexão das partes em um todo que faça mais sentido, e de discernimento entre o que realmente importa versus o que está “sobrando” em uma situação.

4. Não apenas LÓGICA, mas também EMPATIA: para a consciência de que interagimos com pessoas e não objetos ou máquinas.

5. Não apenas SERIEDADE, mas também BRINCADEIRA: para o entendimento de que o humor pode ter alto impacto em nosso bem estar, inclusive profissional, despertando maior criatividade e colaboração.

6. Não apenas ACÚMULO, mas também SIGNIFICADO: para preencher o vazio, levando a espiritualidade a sério como fator fundamental da condição humana.

Para estimular cada um destes elementos, o autor sugere atividades como ler revistas de design, escrever histórias a partir de imagens aleatórias, desenhar, se arriscar em atividades amadoras, fazer uma aula de teatro, ser voluntário, brincar com crianças, entre outras. São páginas e páginas de exercícios e bibliografias – estes são só alguns exemplos!

Lembro que quando li o livro, não saí testando os exercícios, apesar de ter adorado todo o conteúdo. Mas depois que virei mãe, percebi que passei a fazer várias destas atividades, principalmente desenhar, brincar e inventar histórias. E me sinto mesmo mais criativa, mais intuitiva, menos rígida em minha maneira de pensar. Não sei o quanto é fruto destas práticas e o quanto vem da própria maternidade ou do meu momento de vida.

De qualquer forma, acredito que o lado direito do nosso cérebro pode e deve mesmo ser mais estimulado. E o quanto mais cedo investirmos nesta capacidade de equilibrar os dois lados, melhor. Falo isso pensando na educação de nossas crianças. Fica tão nítido, quando observamos uma criança, o quanto ela utiliza e usufrui do seu potencial imaginativo e intuitivo, ou seja, do seu lado direito do cérebro. Mas aos poucos vai perdendo ou atrofiando esta capacidade... principalmente porque nosso sistema educacional ainda dá muita ênfase para o pensamento lógico.

Mas sem querer alongar esta reflexão sobre educação (por ela poderia ir longe), basta pensar em como exercitamos nossos músculos. Não saímos por aí pedalando com apenas a perna esquerda ou levantando peso apenas com o bíceps direito.... porque então insistimos em fazer isso com o nosso cérebro?

Fica aqui o desafio!

Trecho favorito do livro (extraído da versão em inglês):

"The high-concept, high-touch abilities that now matter most are fundamentally human attributes. After all, back on the savannah, our cave-person ancestors weren´t plugging numbers into spreadsheets. But they were telling stories, demonstrating empathy, and designing innovations. These abilities have always comprised part of what it means to be human. But after a few generations in the Information Age, these muscles have atrophied. The challenge is to work them back into shape."

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