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Publicado: Sábado, 14 de abril de 2012

O insólito

Crédito: Divulgação O insólito
Um senhor de 100 anos

Há muitas definições para a palavra insólito, nos dicionários e oráculos google ou yahooque não acontece habitualmente; contrário ao uso, às regras; que não é habitual; incomum; raro; desusado.

Desde que o mundo é mundo, o ser humano tem uma espécie de fascinação que o move numa eterna busca pelo insólito. Seja como combustível dessa busca ou pelo encanto do encontro com o insólito, estou para encontrar alguém que não se renda a essa espécie de magia.

No dia de hoje, 14 de abril de 2012, uma das mais importantes instituições futebolísticas do Brasil, quiçá do mundo, amanheceu como um ancião de 100 anos.

O Santos Futebol Clube comemora, hoje, seu centenário. Poderia ficar aqui falando de Pelé, de Neymar, de Robinho, bi-munidal, tri da Libertadores, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá... Tremendamente enfadonho...

Assim, antes de mais nada, vamos a análise de um fato: desde que o Brasil instituiu disputas nacionais, em 1958 (se eu não me engano), para escolha de seus representantes para a Taça Libertadores (principal competição continental sul-americana, disputada desde 1960), todos os campeões, repito, todos, são de clubes sediados em capitais de estado. Exceto o Guarani FC (1978), e Santos (1961. 1962, 1963, 1964, 1965, 1968, 2002 e 2004).

E o que fez o Santos se tornar o que foi ao longo de seus 100 anos de história e o Guarani (como todo meu respeito), não? O que faz um clube do litoral paulista se tornar uma lenda na história do futebol mundial e outras equipes de cidades que não são capitais de estado, como Caxias do Sul, Campinas, Juiz de Fora, Uberlândia, Caruaru, Londrina, São José dos Campos, Criciúma, Maringá, Petrópolis, Campina Grande, Ribeirão Preto, entre outras, não terem emplacado com suas agremiações locais?

Os 20 primeiros anos da história do Santos, em termos financeiros principalmente, são de assustar o medo. Faltava dinheiro para as disputas estaduais, por exemplo. O jeito era se contentar com o campeonato santista, e olhe lá!

Assim, o Peixe chegara, naquele momento, numa encruzilhada daquelas. Formar um time com jogadores excelentes e excepcionais ajudaria a vencer uma competição aqui, outra ali. Mas não seria o suficiente para uma sobrevida do tamanho da paixão dos torcedores e entusiastas do clube de Vila Belmiro. Naquele passo e hoje o Santos seria uma espécie de Uberlândia melhorado (sem querer aqui faltar com o devido respeito com o clube do triângulo mineiro).

Já se via de antemão que era preciso algo que marcasse o inconsciente coletivo feito uma estrutura mental freudiana. Algo que não necessariamente fizesse um apaixonado por qualquer outra agremiação virasse a casaca. Mas que habitasse o inconsciente dessa pessoa sobre o que seria o futebol sob uma outra abordagem mais plástica, mais artística.

Dessa maneira, o clube passou a apurar o olho não para o jogador de futebol excelente e/ou excepcional apenas, mas era preciso ter nos quadros do clube aquele jogador insólito. A exigência dos santistas não era somente vencer um certame porque tinha o melhor time, mas vencer partidas, competições, dentro de um conceito que aproximava muito o futebol da arte, dentro de um conceito quase estético, da graça baugartiana (segundo Baugartem, a graça é o belo em movimento).

No início, foi difícil imprimir essa nova filosofia. Levou tempo para pegar no breu. Ainda que longe do eficiente (afinal, nem sempre pode se ganhar todas) e do ideal, quando o lance começou, desembestou! O que se viu depois disso foi um clube de futebol do litoral paulista, de uma cidade que não é capital de estado, ganhar o mundo. Foi com a ascensão do Santos que o Brasil começou a ganhar Copas do Mundo e o futebol brasileiro ser temido nos quatro cantos do universo.

Certa vez, o Santos fez um amistoso em Buenos Aires contra a temida, imbatível e colossal equipe do Racing. Racing e seleção argentina eram quase a mesma coisa, a maior concentração de gênios da bola por metro quadrado. O Santos mostrou a que veio e foi um tremendo passeio de bola, uma vitória que só não foi maior porque na parte final da partida o Peixe tirou o pé do freio: 8X3 para o scratch de Vila Belmiro.

No dia seguinte, um jornal local sentenciou: Contra o Santosnem o diabo pode.

Santos Futebol Clube: da Vila Belmiro para o Mundo, de meninos a reis. 100 anos de futebol-arte!

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