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Publicado: Quarta-feira, 11 de abril de 2012

Esquizofrenia: a pessoa por traz da doença

Esquizofrenia: a pessoa por traz da doença

Sempre em minhas aulas, tento construir junto aos alunos uma visão do humano, da pessoa enquanto falamos dos acometimentos psicopatológicos. Falar de doenças faz com que a pessoa, por vezes, desapareça dando lugar a um conjunto de sintomas com nomenclatura particular. Diante de tudo isso, qual seria, então, o lugar da pessoa e sua diferenciação da doença?

A esquizofrenia se apresenta como um quadro duradouro, persistindo ao longo da vida do sujeito. A pessoa esquizofrênica, possui algumas características relacionadas a doença, podendo desenvolver um estado de afastamento da realidade, pensamentos desorganizados, discurso fragmentado, falta de coerência entre as idéias e até mesmo dificuldades psicomotoras relacionadas a essa desorganização experienciada.

O quadro esquizofrênico costuma ser heterogêneo, ou seja, cada pessoa poderá desenvolver sintomas diferenciados apresentando muitas variações decorrentes disso. Também podemos caracterizar tipos de esquizofrenia : Catatônica, Hebefrênica e Persecutória. Em cada um desses tipos iremos ter a prevalência de um conjunto de sintomas e uma terapêutica também, diferenciada.

Os delírios são frequentes, constituindo como uma alternativa de “sobreviver” a esse estado de desorganização insustentável. Se caracterizam como uma construção de “histórias” a partir de acontecimentos cotidianos, desejos e demais conteúdos do sujeito. Por vezes, o delírio pode ser persecutório, no sentido da pessoa acreditar que está sendo seguida, vigiada, criticada e precisar proteger-se disso.

As alucinações auditivo-visuais também podem estar presentes, tendendo a se manifestar em momentos de intenso conflito, buscando fazer frente a uma necessidade do sujeito. Nesse sentido, podemos perceber a alucinação de uma outra pessoa como participante da vida do sujeito, buscando auxilia-lo a enfrentar um conflito específico daquele “momento”.

A incidência do primeiro surto, pode ocorrer na fase da adolescência, onde por si só, se apresenta como uma época do desenvolvimento propicio a conflitos intensos, relacionados a sexualidade, identidade, pertencer a um grupo, entre outros típicos dessa fase.

Após contextualizar o quadro esquizofrênico, como resgatar a pessoa por traz da doença? Existe uma pessoa, com características próprias, com um modo de funcionamento particular, interesses, vontades, expectativas. Uma pessoa que pode ocupar um lugar no contexto social, como participante de uma sociedade, exercendo a cidadania, trabalhando, estudando, se relacionando. Dessa forma, as necessidades e interesses tende a mudar acompanhando o sujeito. O tratamento deve poder propiciar ao paciente lidar com suas dificuldades ao mesmo tempo em que cria condições para que o mesmo possa desenvolver suas potencialidades.

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