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Publicado: Quinta-feira, 19 de maio de 2011

A banalização do Holocausto e o fim do Amor

Nasci no dia 24 de fevereiro. Sou pisciano. Neste dia, 24 de fevereiro, nasceu também meu priminho, filho da minha prima. Nesse dia nasceu também meu querido tio, Zamque. Também pisciano, embora creio que ele nem soubesse disso. Ele já se foi.

Ele nasceu na Polônia, meio irmão de meu avô. Filho do meu bisavô. Ele era uma pessoa querida. Sempre sorrindo com um fundo de tristeza. Sempre feliz pelo que estava vivendo, e triste pelo que viveu. Meu tio foi encontrado após a Guerra no campo de concentracão de Dahau, na Alemanha. Ele pesava 25 kilos quando foi encontrado.

Ao descer do trem, em Aushwitz, viu sua mãe e sua irmã serem levadas para não sabia onde. Foi colocado de volta no trem. Sua mãe foi assassinada. Sua irmã, milagrosamente sobreviveu em Aushwitz. Ele sobreviveu em Dahau, trabalhando, obrigado a recolher corpos das câmaras de gás, e carregando-os para os fornos.

Jamais se casou ou teve filhos. Carregou até o fim da vida cicatrizes profundas do Holocausto. O mesmo Holocausto que levou sua mãe, primos, tios… Levou boa parte da família de tantos. Levou milhões de judeus. Levou ciganos, gays… Levou a dignidade humana a níveis tão baixos que até hoje nos assombra.

Ultimamente me parece que as pessoas se cansaram de tamanha barbaridade. Passaram a tratar o tema com banalidade. O inconsequente e questionável cineasta Von Trier, em seu irresponsável discurso em Cannes assumiu-se Nazista, acreditando poder isto soar como um capricho exótico. Foi banido de Cannes ao menos. O príncipe Harry, da Grã Bretanha, apareceu há algum tempo em uma festa à fantasia trajando um uniforme Nazista. Redimiu-se em público, como se fosse isso desculpável.

Esqueceu-se que seu país combateu o nazismo e cidadãos morreram aos montes nessa pelea. O humorista Danilo Gentili faz piadas com o Holocausto em seu twitter e alguns acham que foi apenas uma piada ruim e que não merece comoção alguma…

Não estou falando de Nazistas convistos, pois estes acho que merecem desprezo absoluto e trato diferenciado. Mas falo daqueles que, cansados desta terrível passagem que evidenciou toda a crueldade da alma humana, banalizam o tema tentando deixá-lo pra trás.

Se querem transformar o Nazismo em uma página virada, fato passado, o façam agindo com amor, e agindo por um mundo mais digno, onde seres humanos se relacionem a partir dos seus corações e da emoção. O façam incentivando um mundo sem discriminação e preconceito. O façam recusando minimizar sua importância. 

Não o façam desprezando uma página tão terrível da História, pois ao fazerem isto desrespeitam meu tio. Me desrespeitam. Desrespeitam milhões de almas que foram queimadas, enterradas e banidas do mundo apenas por serem negros, judeus, ciganos ou gays, ou apenas por terem entendido serem estes, não despreziveis como se pregou à época, mas amáveis, dignos de viver e serem amados. Estes também foram assassinado com Barbara crueldade.

Uma página virada é parte da página que estamos lendo, e esta, perderá parte de seu sentido se eliminarmos da obra um pedaço passado. O Holocausto Nazista foi uma das mais terríveis passagens da História humana. Uma das mais escuras e frias sombras na existência do homem, e ainda não aprendemos dela todas as lições que precisamos para fazer do mundo um lugar melhor.

O Holocausto não é para ser lembrado como um pedestal sagrado. Mas não é para ser esquecido. É para ser respeitado como uma lição importante, como um alerta incômodo e, no mínimo, com o respeito sagrado àqueles que tiveram nele o seu fim.

O Holocausto não tentou queimar apenas seres que considerou impuros. O Holocausto tentou destruir o amor que há no homem. Não deixemos jamais que isto aconteça.

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