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Publicado: Sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Natureza olho no olho

Passei a manhã lendo artigos sobre sustentabilidade e preservação ambiental. Sigo achando que a tônica dada a esta questão está distante do nível de criticidade que deveria ter.

Reconheço as dificuldades de uma mudança absoluta nas nossas posturas de relacionamento com o planeta, mas isto não deixa menos urgente as mudanças radicais que devem ser feitas.

Eu mesmo, que tanto me coloco a falar, vejo que mudei muitos hábitos e posturas. Faço várias coisas, mas sou absolutamente consciente de que deixo de fazer várias outras que estariam ao meu alcance. Algumas destas mudanças deixarão nosso dia-a-dia menos confortável por um tempo, até que nos acostumemos e a cultura se adapte, mas o futuro trará compensações necessárias que farão isto valer a pena.

Mas há uma cena que volta à minha mente de maneira recorrente quando penso no tema, e resolvi compartilhá-la.

Há alguns meses estive em Galápagos. Fiquei muito tocado com a energia de vida pulsando naquele lugar. Mas sei, também, que tudo aquilo está sofrendo com alguns fenômenos climáticos graves. Fiquei, confesso, tenso com a possibilidade de que aquilo, um dia, possa não estar lá para ser admirado e nos dar uma lição sobre a vida.
Com tudo isso o imagem que me volta à mente é muito simples. Um dos animais mais incríveis que existe nos mares é o tubarão baleia. É um tubarão que alimenta-se apenas de micro-organismos e, portanto, absolutamente pacífico e inofensivo frente ao ser humano. Ele é imenso, tendo algo em torno de 14 metros. É um animal impactante em seu tamanho, sua tranquilidade e sua beleza.

Embora mergulhe há mais de 20 anos, eu jamais havia estado ao lado de um tubarão baleia. Para minha alegria, em Galápagos, vi vários.

Estava eu fascinado, a cerca de trinta metros de profundidade, ao lado de um belo tubarão baleia. Eu permaneci imóvel enquanto ele se aproximava, gigante. Quando ele estava exatamente ao meu lado, a cerca de 2 metros de mim, aconteceu algo maravilhoso. Ele olhou pra mim. Virou os olhos lentamente e olhou pra mim. Aquilo me impactou profundamente, pois me fez perceber o óbvio. Somos seres juntos neste mundo. Aquilo não era uma imagem no cinema, era um ser vivo, que estava ali o meu lado, percebendo minha presença. Olho no olho, minha consciência sobre o planeta e minha pequena parte nele, tomou a frente drasticamente naquele momento. Seu olhar sutilmente curioso e talvez um pouco assustado me tocou, me emocionou e me senti, ali, recebido por ele com um pedido de respeito. Bem vindo, mas não me machuque, eu nada farei.

Precisamos incentivar nossa sociedade a lembrar que somos parte de algo muito maior, e existem outros habitantes neste planeta que merecem respeito e devem ser cuidados por nós, pois eles têm direito a isto e têm muito a nos oferecer.

Convido a todos que não costumam fazer isto a experimentarem e levarem seus filhos e seus amigos. Busquem espaços onde os animais, em seu habitat, possam olhá-lo olho-no-olho. Expandam sua percepção de espaço neste mundo para relembrar que somos apenas uma parte deste planeta, juntos com tantas outras espécies. Banimos a natureza de nosso espaço, saibamos visitar os espaços onde ela se mostra em toda sua exuberância, apenas para aprender a respeitá-la e lembrar o que deixamos pra trás.

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