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Publicado: Sábado, 26 de junho de 2010

Será que sonhei?

Será que sonhei?

Estava olhando para o céu estrelado dessas noites de inverno. Coalhado de estrelas. Vi duas cadentes. Esqueci de fazer os pedidos, mas lembrei-me de ter assistido Avatar, Blade runner, ET, Contatos Imediatos do Terceiro Grau e a série completa de Guerra nas Estrelas. Com tudo isso, tive muita vontade de fazer uma crônica de ficção científica. Não me lembro se escrevi ou se sonhei com o relatório que segue.

Centésimo milionésimo quadragésimo relatório da missão de investigação interplanetária

Faço conhecer ao quarto bureau de investigação interplanetária os achados de nossa mais recente exploração. Localizada numa galáxia distante duzentos mil anos luz de nossa constelação, identificamos um pequeno planeta azul, orbitando em redor de uma estrela de pequena grandeza.

Nela localizamos diversas formas de vida coexistindo em relações de associações diversas. Nenhuma delas apresenta novidades em relação aos nossos tabulamentos anteriores.

Uma espécie em particular chama a atenção pelas peculiaridades de hábitos e contradições em suas formas de coexistência. A referida espécie diminui o espaço disponível de vivência que seria suficientemente grande para sustentá-los e mante-los ativos por muitas glaciações. Optaram, sem aparente explicação plausível, por delimitar áreas de tamanhos variados, demarcadas por linhas imaginárias, muitas vezes sugeridas por acidentes naturais e hidrográficos e outras nas quais são adotados critérios totalmente aleatórios e estranhos a todas as normas de colaboração que aprendemos a reconhecer como razoáveis à perpetuação da vida.

Essas áreas abrigam grupos que aparentemente não apresentam diferenças significativas. Só depois de uma investigação exaustiva identificamos alguns critérios, porém nenhum deles apresenta relevância que justifique tais associações. São laços de hereditariedade, esferas de poder e grupos que parecem associar-se unicamente por critérios relacionados à manutenção da área que ocupam no planeta.

Essa espécie é tremendamente agressiva. Organizam-se em torno de atividades produtivas que são utilizadas por menos da metade da população total. A outra metade é escravizada, sobrevive de forma bastante precária e é alvo das mais variadas formas de violência e exploração. A outra metade não apresenta organização homogênea. É também definida por subdivisões com critérios não muito identificáveis. Segundo essas subdivisões, muitos pequenos grupos parecem ter direitos muito maiores do que possuem os demais grupos, muito embora esses sejam muito mais numerosos.

A espécie caminha rumo à autodestruição. Não só em decorrência das sistêmicas e violentas lutas intestinas entre os clãs que são identificados por bandeiras, hinários e formas de comunicação distinguidas por sonoridades variadas. Como também pela forma predatória com a qual se relacionam com as demais espécies do planeta. Sempre excessivamente violentos, consomem muito mais do que seria necessário e conveniente para a manutenção de sua espécie. Tomam das outras espécies muito mais do que necessitam, escravizam e matam movidos por um desejo atávico de dominar, explorar e tirar qualquer forma de vantagem das espécies submetidas.

Em muito pouco tempo terão esgotado as fontes possíveis de abastecimento de produtos indispensáveis a sua sobrevivência. O curioso, é que a espécie emite sinais de desenvolvimento de consciência sobre a inviabilidade da manutenção da espécie caso mantenham tais formas de relação com as demais espécies bem como entre si. Apesar desses sinais, mantém, aparentemente de forma intencional, todos os desequilíbrios que caracterizam suas formas de relação extra e intra espécie.

A espécie macho dessa população bizarra submete suas parceiras fêmeas através das mais variadas formas de violência. As crias, que perpetuariam a espécie, são cuidadas de forma intensamente negligente, salvo em raros clãs minoritários. Hábito manifestamente contrário à manutenção da espécie e aos princípios de equanimidade que regem as formas de vida que se mostraram viáveis em nossas explorações intergalácticas.

Desenvolvem hábitos bizarros e desprovidos de qualquer sentido prático. Aparentemente como forma de satisfação de uma demanda cuja satisfação nada tem a ver com as necessidades biológicas da espécie.

São uma espécie que desenvolvem diversas formas de jogos lúdicos cuja realização parece assumir importância capital para a manutenção da coesão dos diversos clãs.

Unem-se por identificação através dos trajes, dos sons que emitem, de estandartes e de hinários que exacerbam as mais variadas formas de violência e de dominação entre os clãs.

Dedicam-se a festividades que parecem periódicas. Entre elas, uma das que mais chama a atenção e parece ter caráter planetário é definida por um jogo organizado em torno de uma bola, geralmente branca, de tamanho e peso que não ameaçam a integridade da espécie. Todas as formas de atividades produtivas, guerreiras e de formação das crias são suspensas em detrimento da fruição dessas festividades.

Aparentemente as diferenças entre os clãs são todas suspensas nesses períodos de festividades.

Não dispõem de nenhuma forma de conhecimento extra-sensorial que caracterizam todas as formas evoluídas já registradas. Parecem balizar todo seu conhecimento em impressões sensíveis ao corpo físico não tendo desenvolvido nenhuma forma de cognição que prescinda dos sentidos mais toscos e grosseiros dos quais dispõem para o contato material com o universo que os cercam.    .

Extremamente violentos e agressivos, matam suas crias, seus parceiros de procriação, seus ancestrais e todas as demais formas de vida existentes no planeta.

Não parecem de forma alguma preparados ao contato. Espécie com traços de intolerância a tudo que desconhecem e movida por energias ligadas à satisfação dos impulsos mais primários que caracterizam as variadas formas de vida já registradas.

Sugerimos o imediato abandono das pesquisas relacionadas à espécie.

Indicamos a retomada das prospecções em nova era quando a referida espécie já tenha se extinguido. Fato que não deve ultrapassar a próxima glaciação.

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