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Publicado: Quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Um segundo olhar

Um segundo olhar tem o mágico poder de descortinar uma porção de outros mundos. A maioria das coisas com as quais acabamos nos familiarizando e aceitando como verdades, não resistem a cinco minutos de reflexão.

Estamos carecas de ouvir que o “tempo passa”. Isso virou até campanha publicitária de caderneta de poupança. Passa ou nos leva? Talvez sejamos como surfistas numa enorme onda. Uma que desliza na velocidade dos segundos, das horas, dos anos. E nós, montados no tempo, não deixamos ele passar.

E como não desconfiar das imagens do universo como uma grande calmaria negra e silenciosa? Estrelas bailando ao som de música suavíssima, talvez uma valsa de Strauss. Reparando bem, pode não ser exatamente assim, afinal neste exato momento, nós estamos girando em torno do eixo da terra a uma velocidade de 1.500 Km/h, em redor do sol, centro de um insignificante sistema solar, a centenas de milhares de Km/h à medida que nosso sistema solar, um entre centenas de bilhões, encontra-se girando em órbita do centro da galáxia em ritmo de presente virando passado. É sim, o caso de segurar-se na cadeira. Tão frenético e tresloucado que mais combina com o som de uma banda de rock pauleira.

Enquanto isso, um ET que tropeçasse por aqui concluiria com ar de obviedade que essa pequenina bola azul é o planeta das bactérias. Habitantes do planeta há três bilhões de anos estão perfeitamente adaptadas por toda parte. Vivem no deserto, nas geleiras, dentro de homens. Indiferentes à nossa recentíssima existência de raros milhões de anos. E como fica nossa megalomania humanóide? O ET nem nos repara. Só tem olhos para elas. Qual ser humano teria o direito de sentir-se injustiçado?

E por falar em sentir, nossos sentidos nos enganam permanentemente. Cientistas já constataram que o arco íris do beija-flor tem nove cores. Nossos sentidos desconhecem mundos inteiros! Todo nosso aparato sensorial é tosco e limitado. Só enxergamos uma pequeníssima parcela do vasto espectro de comprimentos de ondas existentes. O mesmo se passa com nossos ouvidos em relação ao espectro de ondas sonoras. O nosso olfato é também bastante tacanho diante do mundo de cheiros que experimenta qualquer vira-lata sarnento, desses que a gente escorraça sem assombro de remorso.

E ainda por cima tomate é fruta, baleia não é peixe e todos os dias, coisas muito mais pesadas que o ar passam por cima de nossas cabeças de la pra cá, ao mesmo tempo que trens de ferro passam como minhocas por baixo da terra sob nossos pés. E ninguém parece admirar-se. Pode?

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