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Publicado: Quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Tecnologia e a fábrica de tecidos São Luiz, Itu-SP

A rápida transformação da indústria têxtil a partir do século XVIII, por uma série de invenções técnicas, fez dela a primeira no tempo e clássico exemplar da indústria moderna. Assim, surge a primeiro exemplo de maquinismo no sentido mais complexo do termo.

Jornais ituanos, ideologicamente ligados à propaganda republicana, tornaram-se grandes aliados na difusão dos primeiros empreendimentos industriais construídos na Província de São Paulo, como da Fábrica de tecidos São Luiz, cujo maquinário e cotidiano, passaram a oferecer um diversificado e rico material para a elaboração de seus artigos.

Na Província de São Paulo, a tradição de fiar e tecer, associado aos primeiros empreendimentos têxteis que tiveram êxito e sobreviveram às dificuldades iniciais de instalação, estavam concentradas em localidades situadas no interior da Província, favorecidas pela presença de rios e quedas d’água, fundamentais para impulsionar as máquinas utilizadas na produção de panos e fios.

Essa tecnologia alcançou, a partir de meados do século XIX, as regiões de Itu, Piracicaba, Salto, Sorocaba, Piracicaba, Tatuí, entre outras, onde, a presença de rios encachoeirados, permitiu a incorporação deste sistema. Tecnologicamente, a utilização do uso da energia hidráulica no processo fabril, não representou uma inovação para o século XIX, pois fábricas da Europa, principalmente, da Inglaterra e Estados Unidos já haviam difundido essa técnica, que foi importada e transplantada para o Brasil.

Neste contexto é instalada também a fábrica a vapor de tecidos São Luiz, considerada a primeira fábrica da Província de São Paulo, que de fato adquiriu estabilidade e subsistiu às dificuldades, como exemplo, as fábricas instaladas em Sorocaba na década de 1850, que encerrariam suas atividades pouco depois de inauguradas.

A opção pelo emprego da energia a vapor favoreceu a fábrica de tecidos São Luiz de Itu em dois aspectos: o primeiro, diz respeito à ampla difusão desse conhecimento tecnológico, que vinha desde o século XVIII com a industrialização inglesa, como forma de energia para as máquinas fabris.

Outro aspecto, refere-se à natureza dessa tecnologia que diferentemente de turbina e roda hidráulica, pode ser instalada em diversificados lugares, bastando para isso, o emprego da lenha como combustível. Assim, o emprego do vapor na São Luis foi determinante para que essa fábrica fosse construída junto ao núcleo urbano da cidade de Itu (1842). A presença da chaminé, ainda existente, é uma evidência do uso do vapor, que foi responsável pelo funcionamento, primeiramente, das máquinas americanas até serem substituídas pelas inglesas, manejadas por trabalhadores livres.

Em 1869, quando a fábrica foi inaugurada, transformou-se em um modelo construtivo e mecânico Seu sucesso refletiu e incentivou a instalação de outros empreendimentos fabris da região e também, em Minas Gerais. De lá veio Bernardo Mascarenhas para conhecer as soluções adotadas na São Luiz e utilizá-las na elaboração da planta da fábrica da Companhia de Fiação e Tecidos Cedro e Cachoeira, fundada em 1872 na cidade de Taboleiro Grande – MG. Deve-se destacar que, a partir da instalação da fábrica de tecidos São Luis, em 1869, os demais empreendimentos instalados no interior da província de São Paulo, utilizaram energia hidráulica.

A estabilidade deste empreendimento está relacionada com a dinamização do comércio de equipamentos e de máquinas favorecida pela presença de uma “rede de sustentação técnica” formada a partir da segunda metade do século XIX. Essa rede, representada pela presença de importadores, fabricantes e fornecedores de peças para máquinas agrícolas, surge no “Oeste Paulista”, notadamente representada pela cidade de Campinas, que passa a ser o centro de difusão da tecnologia voltada para atender a intensificação da economia cafeeira em expansão, após 1850.

É em Campinas que se concentraram, entre outras, as importadoras e oficinas de máquinas Lidgerwood Manufacturing & Company (importadores em 1864 e fabricantes em 1884), Fundição Bierrenbach (1880), Companhia Mac Hardy (1875) e Imperial Olaria, Ferraria, Fundição de Ferro e Bronze e Oficina Mecânica (1867-68), responsáveis pela fabricação, sob encomenda, de peças para reposição em aço, ferro e bronze além dos serviços de importação de máquinas para diversas finalidades.

Assim, Através da Lidgerwood, foram adquiridas todas as máquinas para a montagem da fábrica São Luiz em Itu e, da Marc-Hardy, para a fábrica de tecidos de Francisco Fernando de Barros Júnior de Salto, inaugurada, em 1880.

Para montagem de todo o maquinário e treinamento técnico dos operários foram encaminhados ao Brasil, pelas importadoras e fabricantes de máquinas têxteis um contingente de técnicos, os chamados “oficiais-peritos”, especialistas na montagem e treinamento dos operários que iriam operar as máquinas. Estes estrangeiros, em sua maioria americanos e ingleses, entraram em cena dentro do ambiente fabril.

Esses mesmos especialistas foram fundamentais na difusão do saber técnico, voltado para o treinamento de operários, e difundido em toda a Província de São Paulo. Para isso, empreenderam um sistema de trabalho de forma itinerante e, assim, em cada uma das fábricas que permaneciam como encarregados da instalação, também treinavam os operários para que pudessem dar continuidade ao bom funcionamento do maquinário.

Um exemplo destes especialistas é a trajetória de especialistas vindos da americana Lidgerwood e das inglesas Casas Buckley & Taylor e Oficinas Platt Brothers & Co., sediadas em Oldham, Inglaterra.

Em Itu, a fábrica de tecidos São Luiz contou diretamente com três oficiais. O primeiro foi o engenheiro americano Willian Pultney Ralston, que atuou como agente técnico em Campinas das máquinas Lidgerwood, importadora da qual foram adquiridos todo o maquinário e projeto para a montagem.

Através da Lidgerwood veio também para Itu, o mestre-ferreiro Thomas Harre, que ficou responsável pela montagem de todo o maquinário. Na década de 70, Harre passou a trabalhar como ferreiro na Companhia Ituana de Estradas de Ferro.

Na década de 1890, o edifício da fábrica de tecidos São Luiz foi ampliado contando para tanto, com os serviços do engenheiro Arthur d’ Sterry, responsável pela elaboração da planta e projeto. Como tantos

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