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Publicado: Segunda-feira, 16 de novembro de 2009

República: o que é isso?

República: o que é isso?
Óleo sobre tela: A Proclamação da República

Sempre me orgulhei muito de ser ituano – uma graça maravilhosa. Para o leitor ter uma idéia do que isso significa lhes envio o link de um clipe que fala disso – uma música deliciosa – Amazing Grace (Graça Maravilhosa).

http://link.brightcove.com/services/player/bcpid1785324681?lid=1338935106&bctid=1913313052

Parece que estou sem assunto não é? Na verdade vou meter a minha colher num assunto que me deixou com vergonha. Na manhã do dia 16 de novembro, vejo, na Globo, uma “reportagem” sobre as comemorações do Dia da Proclamação da República (há 120 anos) na cidade de Itu – Berço da República. O que se via era uma voz em “off” falando da data e, sinceramente, uma meia dúzia de pessoas, talvez oito, pois dava para contar, na calçada em frente à porta da fachada do Museu da República, no chamado Centro Histórico, com a imagem do competente historiador Jonas Soares de Souza, se esforçando para retratar o desenrolar dos fatos que culminaram com a proclamação da República em 1889.

A cena seguinte era a de uma senhora tentando falar num orelhão gigante. Depois, imagens da Rosário e do amigo João Pacheco lembrando a importância da data.

Nenhuma comemoração oficial, nenhuma bandeira hasteada, nenhum ato cívico, nenhum desfile escolar ou militar. No meu tempo de criança, todo mundo desfilava, os professores do Regente Feijó despertavam interesse pela data e por outras que tornaram o Brasil uma nação, como a nossa independência, também esquecida pelas autoridades de Itu.

Será que é preguiça? Será que datas como o 7 de setembro e 15 de novembro devem ser esquecidas? A bandeira e o Hino também? São as trevas que caem sobre Itu. Antes de tudo isso, a Secretaria de Comunicação havia avisado à imprensa ituana que o Roteiro Republicano que seria promovido pela RuralTur durante os dias 14 e 15 de novembro, tinha sido cancelado pelo reduzido número de inscritos.

Será que a sociedade ituana, os acadêmicos, as universidades, as associações, as entidades culturais, as Secretarias de Educação e Cultura, não devem fazer pressão nas autoridades?. Cidade cujos antigos colégios formaram gerações de inteligências que se espalharam pelo Brasil contribuindo para o progresso nos mais diversos setores, agora se recolhe à insignificância, à crueldade, de abandonar sua história.

Falta de cultura, falta de ídolos históricos, falta de civismo, falta de entusiasmo pela própria terra, falta de conhecimento sobre a importância de Itu no cenário nacional, não pelo “grande”, mas pela grandeza da sua história e da sua gente que, eternamente, precisa ser lembrada, como Almeida Júnior, Paula Souza, Elias Lobo, Tristão Mariano da Costa, Barão do Itaim, Prudente de Morais, Ermelindo Maffei etc.

Não vou aqui explicar o que é República – a gestão da coisa pública como diriam os romanos. Na época em que Roma dominou o mundo, o Senado discutia política com paixão, educação, foco, ética e deixou um grande legado de maravilhosos discursos, cujos temas são verdadeiros até hoje. Nem de longe vamos comparar com o nosso Senado.

Mas, para ilustrar melhor a história ituana, me atrevo a fornecer o link que dará ao leitor uma ideia do que significa o Berço da República: - http://www.itu.com.br/colunistas/artigo.asp?cod_conteudo=7375 – onde o próprio historiador Jonas de Souza, citado acima, narra, com clareza, para quem quiser aprender e sentir a emoção e a importância da “Convenção de Itu”.

A falta de cultura histórica faz com que as pessoas não conheçam as suas origens. Além disso, a história caminha sempre ao lado do turismo. Um evento, se houvesse, poderia atrair centenas de turistas para o Centro Histórico, além de melhor movimentar o comércio da cidade.

Já escrevi algumas vezes que na Estância Turística de Itu, o turismo não é prioridade do governo. Agora, acrescento que a história da cidade também não é.

Que momento Itu perdeu. Que oportunidade para um evento, o mais simples que fosse, mas organizado de forma oficial, com a presença de todas as autoridades da cidade para celebrar os 120 anos da Proclamação da República, às vésperas do IV Centenário de Itu. Seria uma ocasião impar para atrair a imprensa nacional para se falar de um fato histórico e já anunciar a programação de outro – os 400 anos de fundação da cidade, em fevereiro de 2010.

Mas, o que se sente é que o assunto IV Centenário esta encolhendo, cada vez menos se fala nele, a comissão organizadora jamais se pronunciou sobre o projeto de comemoração. Assunto proibido com indícios de fracasso.

O que será das gerações futuras em relação ao nosso patrimônio histórico que inclui, até, a maior biblioteca do País sobre o tema República no Brasil?. Parece que o patrimônio arquitetônico de Itu será relegado às pichações, ao deus dará. E a sociedade não reage.

O quê será que deve ser feito para abrir os olhos dos dirigentes?. Pedimos tão pouco. Se o Museu da República está fechado, um evento poderia ser feito na Biblioteca Edgar Carone, onde milhares de livros e trabalhos contam a história da república brasileira. Será que o Regimento Deodoro, que preservou muito bem a sede do quartel, as Universidades, as Instituições de Ensino Técnico e de nível médio, os Sindicatos, Igrejas, a mídia local, Associações Comercial e Industrial, as forças vivas da cidade, Ministério Público, as grandes empresas sediadas em Itu, não poderiam tomar as rédeas de uma situação que se aproxima e será vergonhosa para o povo ituano?. Essas forças precisam reivindicar e cobrar os eleitos pelo voto, tanto no executivo como no legislativo que dediquem uma importância maior ao civismo e à história ituana, tal qual o turismo, relegada a segundo ou terceiro plano.

Se a história precisar ser desenhada, estamos à disposição. Só queremos que Itu seja preservada, seja divulgada de forma profissional, seja amada pelos que aqui vivem, seja louvada e abençoada pelo povo que tem, seja uma quatrocentona respeitada e reconhecida pela cultura e méritos que conquistou, digna de sua grandiosidade. Nunca precisamos tanto da classe política da cidade e ela está se omitindo neste momento histórico. Bom lembrar: todos eles, assim como nós, passarão. Itu ficará para sempre e se lembrará eternamente dos seus bons filhos.