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Publicado: Domingo, 15 de fevereiro de 2009

Saúde ou beleza, eis a questão

Vivemos numa época na qual o fator mais importante das pessoas não é sua descendência, cultura, inteligência, senso de justiça, valores, ideias e ideais, objetivos, nem mesmo o passado ou futuro, mas sim a casca. A crosta, a máscara, a superfície. Temos quase que a obrigação do corpo perfeito e esbelto, da pele macia, dos cabelos lisos, ainda que artificiais. E qualquer outra coisa que saia do patamar da aparência pode muito bem ser descartado pois, se não vemos, não importa se é feio ou bonito, agradável ou não. Correto ou não. É como poeira que varremos pra baixo do tapete e fingimos não saber da sua existência e localização
 
O grande problema dessa situação vergonhosa que é a superficialidade da nossa existência é que isso já se tornou aceitável na nossa sociedade. Consideramos, de tanto ver agirem dessa forma, normal prejulgar pessoas por sua aparência. E isso não faz crescer apenas um problema social, de preconceito e discriminação, além de egoísmo, mas afeta – e muito – a saúde de muitas pessoas que se sentem mal por não atender a expectativa do nosso “padrão de beleza” anoréxico.
 
Esse problema ‘saúde vs. beleza’ leva a seguinte questão: se você segue o padrão de beleza imposto pela sociedade, mesmo que isso afete sua saúde e bem estar, você é aceito na sociedade e tratado como parte do sistema. Caso contrário...
 
Bom, o fato é que cada dia mais cresce o número de pessoas com distúrbios alimentares de origem psicológica, como anorexia e bulimia, assim como as filas nos consultórios médicos pra intervenções estéticas, suas sonhadas cirurgias plásticas, que para os pacientes não são simplesmente retoques, mas fatores essenciais para continuarem respirando (e podemos considerar isso como um distúrbio visual e, claro, psicológico gerado por críticas sem fundamento da sociedade, obesa, na qual estamos inseridos).
 
Todos viram ou leram os comentários maldosos que alegavam que a modelo checa Karolina Kurkova possuía excesso de gordura localizada e celulite e que estava gorda no desfile da Cia. Marítima na São Paulo Fashion Week. Ela estava saudável, linda, feliz e realizada... Mas ‘não estava magra’.
 
É um exagero e talvez até maldade pensar que nos impuseram uma meta de beleza que só serve para deixar as pessoas frustradas, estressadas e, claro, com aquela sensação de derrota e inferioridade. Além de doentes.
 
Será que vale perder a parte boa da vida, as pequenas coisas que nos fazem realmente felizes, pra correr atrás da perfeição – inalcançável e prejudicial? Vale a pena passar a vida ‘dando murro em ponta de faca’, como diriam nossos avós?
 
O número de pessoas “há dois quilos da felicidade” vem aumentando descontroladamente e é desesperador ver as pessoas se acabando pra se encaixar num padrão que não é delas, sem respeitar seu estilo de vida, seu corpo ou limitações.
 
Vejam bem: não é errado, nem dispensável, lutar pra conseguir o corpo que você quer (pois é importante lutar pelo que se quer, seja o que for), mas mais importante que isso é entender que a saúde deve estar em primeiro lugar. Se cada um se aceitar como é, gordo ou não, e se assumir e ser feliz assim, talvez vejam que a vida é muito mais simples do que parecia e que aquilo que antes era um trauma não passa de um simples detalhe e, então, possam conquistar seus objetivos com mais tranquilidade.
 
Afinal, de que serve uma casca lisa e de coloração singular se por dentro houver algo podre, velho ou sem vida?
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