Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 9 de junho de 2008

Pedalar e descobrir

Pedalar e descobrir
Floração rochosa na região

Nos últimos dez anos a prática do mountain bike vem proporcionando algo de muito valor para meu conhecimento.


Com esta modalidade ciclística, a qual se é praticada sempre ao ar livre e em contato direto com a natureza e na sua maioria das vezes, percorrendo a zona rural onde se encontram cenários de enorme variedade de riquezas, sejam elas, históricas, geográficas, geológicas ou culturais. Sendo assim, venho tendo a oportunidade de vivenciar e adquirir conhecimentos que muitas vezes passam despercebidos por muitos, mas que estão presentes na maior parte do tempo enquanto pedalamos.

 

Qual dos muitos ciclistas que enchem de colorido as estradas e trilhas da região nunca passou por um Campo de Matacões, ou por linhas de pedras encravada nos barrancos ou cortando as estradas locais, ou então não se impressionou com o solo depositado em camadas, e colocado a mostra nos cortes feitos pelas inúmeras estradas rurais do nosso município?

 

A cidade de Itu, bem como todo o Vale do Médio Tietê, compreende uma área que permite a realização muito eficiente de estudos histórico-geográficos, uma vez que possui um patrimônio natural e arquitetônico de grande valor científico e cultural, paisagens variadas, e com características próprias em cada uma das direções dos pontos cardeais.

 

Nas direções sul/sudeste, são observadas rochas do Complexo São Roque, são do Proterozóico Superior, ou seja, formadas à cerca de 640 milhões de anos e abrange as áreas ao sul de Itu e mais próximas de Sorocaba, São Roque e Mairinque. Inclui uma gama complexa de rochas predominantemente metamórficas, como filitos, xistos, quartzitos, migmatitos, etc. É muito comum encontrarmos linhas de pedra encravadas nos barrancos e faixas diagonais de rochas cortando as estradas de terra que levam para os lados das fazendas Santa Marta, Pau D'alho, Paulista, Quedas D´agua, Apotribu indo até a Serra do Japi, nesta região é comum também encontrarmos várias espécies do cerrado em meio à vegetação local, esse fato foi registrado também pelo naturalista e botânico Augustin François de Saint-Hilarie em sua passagem por Itu e citado em uma de suas obras onde registra suas experiências em uma de suas viagens à Província de São Paulo.


Um local onde podemos observar com detalhes a transição do complexo São Roque para o complexo Amparo, é na subida do “Jair Rodrigues” um roteiro muito conhecido pelos bikers de Itu. No local com aproximadamente 4,5 quilômetros de subida, é possível observar, solo característico, vestígios e rochas do Complexo São Roque na sua base. Da sua metade até o topo o que predomina são rochas de granito, formando Campos de Matacões e com solo (pedregulho) característico do local.

 

Nas direções leste/nordeste/norte, são observadas as rochas do Complexo Amparo, formadas no Período Proterozóico Inferior, apresentam gnaisses, granitos e migmatitos, entre outras, e ocorre a leste e nordeste de Itu e Salto, rumo à Serra da Mantiqueira e seus contrafortes. Aqui se destaca os campos de matacões de Itu, derivada de uma grande intrusão vulcânica ocorrida por volta de 540 – 560 milhões de anos, se estendendo desde o Rio Capivari Mirim, ao norte (Indaiatuba - Itupeva), até às margens do Rio Tietê, entre Itu e Cabreúva.  Um aspecto de grande interesse na vegetação desta região, consiste na presença de vestígios de caatinga, com cactáceas e bromélias instalando-se na região, em época de vigência de um clima semi-árido a partir de 2 milhões de anos atrás. Tais plantas conseguiram se adaptar ao período úmido, mais recente nos locais mais rochosos e solos rasos mais secos. Com o avanço da vegetação mais seca, as matas recuaram, ficando em locais como o Canyon do Tietê, entre Cabreúva e Itu, um refúgio florestal nesse período, e estoque genético que permitiu a retomada das florestas, com seus jequitibás, cabreúvas, e a grande diversidade de plantas típicas, esse fenômeno foi peça chave para os estudos do geógrafo e professor Aziz Ab'Saber, um dos mais respeitados geomorfologistas do Brasil, sendo o primeiro a classificar o território brasileiro em domínios morfoclimáticos e a desenvolver a teoria dos refúgios seguindo a linha de pensamento da teoria da evolução das espécies, do biólogo inglês Charles Darwin. Esse cenário pode ser observado percorrendo a vasta região do bairro Pedregulho, Pirahy e Estrada Parque.

 

Nas direções oeste/noroeste/sudoeste, está localizada a Bacia Sedimentar do Paraná, com rochas formadas, na maior parte, a partir de depósitos glaciais continentais, glácio-marinhos, fluviais deltaicos, lacustres e marinhos. Com esses ambientes variados, formaram-se arenitos de granulação diversificada, conglomerados, diamictitos, tilitos, siltitos, folhelhos, ritmitos e raras camadas de carvão. As formações Itararé e Tatuí fazem parte do Grupo Tubarão,  formado durante os per&

Comentários