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Publicado: Sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Sequicentenário do Colégio do Patrocínio

Comemora-se, a partir deste mês de novembro, o sesquicentenário do famoso Colégio Nossa Senhora do Patrocínio, implantado a partir de 1858, em Itu, com a chegada das Irmãs de São José de Chambéry. Benfazeja a iniciativa de Dom Antônio Joaquim de Melo, ituano, primeiro bispo brasileiro de São Paulo, de evocar em França a vinda das referidas Irmãs, que assumiram o nobre encargo da formação feminina na Província de São Paulo, naqueles tempos de Brasil nascente!
 
Associado ao poder civil pelo regime do Padroado imperial, teve o Bispo a feliz idéia de entregar para este fim o antigo, amplo e sólido prédio construído no início do século 19, pelo famoso Padre Jesuíno do Monte Carmelo, situado no antigo bairro do Tanque, em Itu. O Padre Jesuíno, que era viúvo e foi acolhido no clero, teve dois filhos também padres, que com outros clérigos formaram um grupo que ficou conhecido por “Padres do Patrocínio”. Pretendiam fundar uma congregação religiosa, que não foi acolhida pela Santa Sé por apresentar características meio galicanas, consideradas apócrifas por Roma. Do grupo, participou o conhecido Regente Padre Feijó.
 
Estando o edifício obsoleto, o Bispo ituano ao assumir o sólio paulopolitano, não teve dúvidas. Ele conhecia bem o espaço e sabia da inviabilidade dos intentos dos antigos “Padres do Patrocínio”, pois ele mesmo andou militando temporariamente entre eles, e decidiu aproveitar o sólido prédio para o nobilíssimo objetivo de dar instrução adequada à juventude feminina de sua província.
 
As primeiras religiosas de São José que enfrentaram os perigos do mar, singrando o Atlântico até às margens brasileiras, foram Irmãs Justine Pepin, Maria Elias Miévre, Cunegunda Gròs, Maria de São Paulo Angelier, Marta Cruz Godett e Maria Angelina Achard.
 
Esta última, à parte o destacado trabalho escolar, deixou curiosa lembrança: conhecendo no Brasil o gosto saboroso das mangas, que não existem na França, plantou no centro do pátio uma mangueira que dura até hoje, mantida pelas Irmãs com os cuidados de uma verdadeira obra de arte, digna de um museu histórico. Quem quiser vê-la, basta ir ao Patrocínio de Itu e a encontrará frondosa, com galhos enormes que não existem praticamente em lugar nenhum, além daquele.
 
A Congregação das Irmãs de São José foi fundada em 1650, pelo jesuíta, Padre Madeille, na Diocese de Puy, na França. Teve importante trabalho nos séculos 17 e 18, mas sofreu terrível perseguição à época da revolução francesa, tendo que encerrar, dolorosamente, suas atividades. Porém, à semelhança da Companhia de Jesus, perseguida pelo Marquês de Pombal e destruída em 1773, e passado o terremoto dos revolucionários anticlericais, foi restabelecida em 1814, também à Congregação das Irmãs de São José, Deus reservou a mesma graça. Ao findar o terror, a Madre Marie de Sait Jean de Fontbonne, reformou a instituição e, com o despertar de muitas vocações, pôde abrir novos colégios para a formação da juventude feminina.
 
Sobre estas obras vítimas de perseguição religiosa, pode-se aplicar a máxima beneditina “Succisa virescit”, pois, cortadas, reverdecem com mais força que antes.
 
Tendo a Congregação vindo para o Brasil em 1858, no ano seguinte, chega a extraordinária Madre Maria Theodora Voiron, hoje em processo de canonização, sendo já declarada Venerável pela Santa Sé. Desceu no Rio de Janeiro a 23 de maio de 1859, após 54 longos dias de viagem, tendo partido, em companhia de outra religiosa, a 29 de março, do porto de Havre. No Rio, foi recebida pelo Comendador Diogo Andrew, um ex-protestante inglês convertido ao catolicismo que as conduziu, à Santa Casa de Misericórdia, onde foram acolhidas pelas Irmãs Filhas da Caridade, de São Vicente de Paulo. Veio para Itu, onde viveu até o fim de sua vida.
 
Madre Theodora Voiron foi admirável mulher! Com 24 anos, assume a direção do colégio que conduzirá excelentemente por dilatados anos e, em 1872, é eleita a primeira Provincial da Congregação, no Brasil. Nascida em 1835, viveu por 66 anos no Patrocínio, dando tudo de si pela boa formação feminina, dentro de seu exemplar espírito religioso de autêntica mestra e verdadeira santa. Faleceu, com 90 anos, em 1925. Sendo sepultada no cemitério de Itu, teve seus restos mortais transladados para a Igreja do Patrocínio, onde se encontram até hoje e são venerados por incontáveis fiéis.
 
Entre as admiráveis obras da Madre Voiron, destaca-se a sua iniciativa de não dar instrução apenas para meninas ricas, mas de abrir as portas para jovens pobres e em particular para filhas de escravos e para as próprias mulheres escravas. Para estas, formou uma classe especial, com métodos adequados para alfabetização de adultos. Era contrária à escravidão e, com visão de futuro, já preparava as meninas de origem negra a terem, na sociedade brasileira, a mesma estatura em dignidade, expressão intelectual e moral das filhas dos brancos.
 
O Colégio do Patrocínio foi aberto no dia 13 de novembro de 1859, em missa solene, presidida pelo Pároco Padre Miguel Correa Pacheco, com assistência pontifical de Dom Antônio Joaquim de Melo. A figura do referido antístite é tão marcante na vida do Colégio e da Congregação, que até hoje se encontra no soberbo edifício do Patrocínio, um espaço nobre, cujo título é “Sala do Bispo”, por conservar ali um grande óleo-sobre-tela de Dom Antônio Joaquim de Melo.
 
Teve este colégio importância tão grande não só para São Paulo, como para todo o Brasil, que até meados de 1980, veio formando uma enorme fileira de alunas que se transformaram em eminentes professoras universitárias, médicas, advogadas, pedagogas, psicólogas e outras nobres profissões espalhadas por uma grande extensão geográfica. Hoje o Colégio, sem os incentivos dos governos do passado, teve que encerrar suas atividades e deu lugar ao Centro Universitário Nossa Senhora do P
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