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Publicado: Segunda-feira, 3 de junho de 2019

Salvador Arena, um italiano prá lá de ousado

 “A sociedade que consagra valores altruístas através do exemplo e da educação, desenvolverá, certamente, uma natureza humana melhor” (Salvador Arena).

      O italiano Salvador Arena, que veio ao Brasil com cinco anos, tornou-se uma lenda. Nos idos de 80, em pleno domínio do sindicalismo em São Bernardo do Campo, sua empresa, a Termomecanica, teve a entrada barrada por um piquete de sindicalistas dispostos a parar a única empresa que nunca havia aderido a uma greve. Salvador Arena subiu em uma torre com um megafone e disse: o sindicato quer parar a fábrica e eu digo que todos aqueles que querem trabalhar entrem na fabrica. Pagarei 10 salários extras a quem trabalhar hoje. Nem é preciso dizer que o piquete foi atropelado pelos trabalhadores. Na única ocasião que a Termonecanica parou foi por iniciativa do Salvador Arena, que decidiu fazer uma greve de um dia por conta própria.
     O engenheiro politécnico alcançou sucesso no ramo de metais não ferrosos (cobre, latão, bronze e ligas especiais) por sua engenhosidade, persistência e ousadia. Como “self made man” acumulou grande fortuna e nos anos 80 foi considerado um dos empresários mais ricos do país, ao lado de Amador Aguiar, Antonio Ermírio de Moraes e Roberto Marinho. Salvador Arena não teve filhos e doou sua fortuna a uma fundação que leva seu nome, dedicada a projetos educacionais, apoio a programas de cunho social, moradia, saúde e subsídios a entidades filantrópicas. Fiel à conduta de seu criador, a fundação ajuda aqueles que assumem responsabilidade pelo seu aperfeiçoamento, sendo rigorosa na seleção dos projetos e na avaliação dos resultados. O lema é “fazer com e não para”.
     A Fundação Salvador Arena possui um patrimônio composto de investimentos em títulos, imóveis e ações. Tem receitas anuais de 300 milhões de reais, aplicadas, por exemplo, no Centro Educacional com três mil alunos, a maioria de famílias humildes, que dá formação gratuita desde a educação infantil, ensinos fundamental e médio, cursos técnicos e faculdade de tecnologia.
     Quem percorre o campus do Centro Educacional fica abismado: paredes limpas sem pichação, bibliotecas organizadas e silenciosas, absolutamente nenhum lixo jogado nas ruas e pasmem, alunos uniformizados, inclusive os jovens da faculdade, estudando, debatendo, aprendendo. Uma cena impensável na maioria das escolas e universidades públicas e até mesmo em algumas escolas privadas.
     Salvador Arena tinha um sonho: desenvolver pessoas através da educação, em um modelo integral, onde os alunos permaneceriam na escola em período integral. Ofereceu o modelo a vários governos e ministros de educação de sua época. Não obteve resposta positiva, mas não desanimou e decidiu: se vocês não querem fazer, deixe que eu faço.
     Sua ousadia sem limites o fez tocar seus negócios sem nunca tomar empréstimos nem contratar consultores. Apesar de crítico feroz do sistema tributário e da estupidez das medidas econômicas e políticas, pagava seus impostos com extremo rigor e protestava através de artigos pagos na imprensa. “O estorvo do Estado continua a empurrar morro abaixo o nosso pais. Continuamos os mesmos: meia dúzia trabalha e a outra atrapalha” Palavras que continuam sendo verdade meio século após suas declarações.
      Em 1998 aos 83 anos, Arena faleceu. Sua obra e sua visão seguem nas mãos dos herdeiros de sua vontade, os empregados e dirigentes da empresa e da Fundação.
Quem sabe um dia, o caráter desse italiano ousado e extraordinário, contagie as lideranças do país no caminho do altruísmo e da solidariedade.

 

 

 

 

 

 

 


 

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