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Publicado: Terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

O nosso abuso de cada dia - Parte II - final

Crédito: Internet O nosso abuso de cada dia - Parte II - final
Saiba dizer "não".

E sabe por que isso acontece?

Porque nós já estamos dessensisbilizados pela quantidade excessiva de abusos – diariamente.

É a esposa que fala que hoje não quer namorar, mas o marido insiste. É a mãe cansada que fala que não quer sair porque gostaria apenas de se sentar e relaxar a “cabeça”, mas os filhos persistem. É o cliente que diz que “não gostaria de alterar o plano porque já está satisfeito com aquele que ele tem”, mas a operadora insiste que o melhor plano para você é o plano mais caro.

É o paciente que diz que “não consegue mais esperar porque está doendo demais”, mas a atendente “só atende às normas e nesse momento você vai ter que esperar porque tem 16 pessoas na sua frente na fila de espera”.

Apesar de bem pronunciada e de fácil entendimento, a palavra “não” é, diversas vezes, ignorada ou esquecida e, ao final, o abuso acontece, de novo e de novo, insistidamente.

Para mim, e acredito que não seja somente no meu ângulo de visão, as pessoas insistem pensando que estão fazendo o melhor para o outro, que aquela será a melhor decisão para o outro, que daquela forma irá ajudar o outro, contudo, a gente precisa entender que, fazer com que a pessoa faça o que a gente quer é uma forma egoísta de se relacionar com a pessoa. É um olhar, um tanto, único e, você tem que pensar que numa relação é VOCÊ e o ELE(A).

É uma via de mão dupla, é o vai e vem, é o eu e o tu, não é e nunca deverá ser unilateral. Se você quer que a pessoa faça algo que VOCÊ ACHA QUE SERIA MELHOR para ela, faça-a refletir sobre aquilo, faça-a pensar e ver por quais meios ela poderia chegar ao mesmo caminho, trilhando aquela passagem que a faz sentir bem, que se adéqua melhor àquela pessoa, e não aquele caminho que já se adequou bem a você. A minha fórmula de viver é diferente da sua e a sua fórmula de viver é diferente da minha: tenho que respeitar isso.

Esse é o maior dos maiores desafios, somos diferentes, pensamos diferentes e vivemos diferentemente.

Quantas vezes você não pensa que a sua forma de pensar e viver é a única e “correta” forma de ver as coisas?

Vejo que a gente já passa por suficientes desafios colocados pelo sistema judiciário e a demora, pela saúde e a forma desumana em tratar as pessoas e outras dezenas de coisas que não vou ficar citando aqui – pois você conhece mais delas do que eu. Então, por que não facilitar a vida da outra pessoa, ou simplesmente, parar com esse abuso desnecessário?

Se alguém chega a sua casa e você fala para a pessoa sentar-se e ela diz que não quer sentar-se, entenda: A PESSOA NÃO QUER SE SENTAR (PONTO). Se você, de forma muito hospitaleira, pergunta se a pessoa não quer comer um salgadinho ou tomar um café e a pessoa diz que não quer, É PORQUE ELA NÃO QUER. É tão simples e complexo entender isso.

Agora, no fim de ano, muita gente faz festa e gosta de lugares tumultuados onde toda a família esteja presente e toda aquela algazarra esteja “no ar”, contudo, acredite: tem gente que prefere o contrário e não se adapta a todo esse alvoroço, seleciona algo mais privativo, com poucas pessoas em ambiente mais tranquilo.

Observo que esse excesso de querer ofertar as coisas às pessoas acontece numerosas vezes: quando você vai à casa de alguém ou a uma festa e você está naquela dieta disciplinada, contudo, parece que naquele momento que você está bem consigo mesmo(a), aparenta estar super saudável, é o momento que as pessoas querem que você “esteja ainda mais saudável”, fazendo com que você coma todas aquelas guloseimas que você realmente a-do-ra-ria poder comer, porém, você decidiu não querer – pois fez essa escolha por você.

Só você sabe o quanto você está se esforçando para chegar naquele peso e por isso, só você sabe que, apesar daquela luta interna, a melhor coisa a fazer é não comer as guloseimas naquele momento e deixar para outro momento que você realmente queira comer aquilo, pois a recompensa por manter uma vida saudável vai chegar a médio ou longo prazo. Todavia, não é fácil fazer com que as pessoas entendam isso!

Não estou dizendo que a partir de hoje você deve ter atitude como a de um “burro quando empaca” e fazer somente aquilo que você quer fazer e pronto, o mundo não funciona dessa forma. Sim, a gente tem que trabalhar no horário que o chefe quer, sim, a gente faz inúmeras coisas que não são tão prazerosas porque são as nossas obrigações e responsabilidades e sim, você tem que plantar para colher – e o plantio em si não é só felicidade e contentamento, é decepção e esforço.

A vida não é um mar de rosas, como já diziam os mais velhos, não vivemos apenas de forma hedonista e, por isso, temos que saber ter discernimento quando é a minha vez de ser respeitado e ter o poder de escolha em mãos e o momento que eu tenho que fazer aquilo, pois é um dos deveres da carreira, do papel de mãe/pai ou mesmo um dever constitucional.

Penso que o ponto chave é você saber quando é a sua vez e quando é a vez dele(a). Isso, apesar de ser subjetivo, deve e tem se a obrigação de ser discutido, argumentado  e justificado pois, só então chegaremos em um acordo satisfatório para os dois lados, em um ganha x ganha.

Todavia, porém, contudo, lembre-se sempre que você tem e deve exigir o seu direito de dizer “não quero ir”, “não tenho que comprar”, “não preciso gastar” ou mesmo, “não quero ser”, porque nem eu, nem você e nem ninguém tem que ficar “engolindo” tudo que os outros dizem de forma passiva.

Se você, eu e ele(a) começarmos a dizer mais “não”s às formas como os outros te dizem para viver, talvez o outro vai parar de te dizer como viver e você vai encontrar o seu modo de ser feliz, esse será o seu sucesso, o sucesso que só você sabe o quanto te faz sentir realizado.

“Eu sou eu, você é você. Eu faço as minhas coisas e você faz as suas coisas. Eu sou eu, você é você. Não estou neste mundo para viver de acordo com as suas expectativas. E nem você o está para viver de acordo com as minhas. Eu sou eu, você é você. Se por acaso nos encontrarmos, é lindo. Se não, não há o que fazer.” Fritz Perls, 1969.

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