Cinema

Publicado: Quarta-feira, 10 de junho de 2015

"Sense8", o maior acerto dos irmãos Wachowski desde "Matrix"

Série é uma das melhores já lançadas pela Netflix.

"Sense8", o maior acerto dos irmãos Wachowski desde "Matrix"
Elenco global: diversidade é a palavra que marca a primeira temporada de "Sense8"

Por André Roedel

Os irmãos Andy e Lana Wachowski ganharam fama mundial com “Matrix”, ficção científica com Keanu Reeves e Laurence Fishburne. O filme de 1999 revolucionou o cinema na época e deu status aos então novatos na indústria cinematográfica hollywoodiana. Sucesso de crítica e público, a saga fez todos se perguntarem: qual será o próximo acerto deles?

A adaptação do desenho japonês “Speed Racer” em 2008 bateu na trave, mas os fiscos em “A Viagem” (“Cloud Atlas”, 2013) e “O Destino de Júpiter” (“Jupiter Ascending”, 2015) fizeram muitos duvidarem se Os Wachowskis, como se auto-intitulam hoje, ainda teriam o que mostrar. Essa questão foi resolvida com o lançamento de “Sense8”, nova série original da Netflix criada por eles e J. Michael Straczynski (“Babylon 5”).

A obra é uma das melhores já lançadas pelo serviço de streaming. Vou além: é uma das melhores dos últimos anos. Usando como pano de fundo a ficção científica sempre abordada pelos Wachowskis, “Sense8” na verdade é uma série sobre emoções e seus impactos na vida humana. A produção é um grande experimento sensorial, que desperta no espectador as mais profundas e primitivas sensações.

Girando em torno de oito pessoas de diversas partes do mundo, “Sense8” introduz o conceito de “sensates”, como são chamados aqueles com o dom de se conectarem com os outros. Eles podem compartilhar experiências, habilidades e emoções entre si, o que – na maioria das vezes – os auxiliam na resolução de alguns problemas com que se deparam. Mas como tudo que é diferente, os “sensates” também são perseguidos. Neste caso por uma grande corporação, que caça os dotados.

Mas o lance científico e de ação para por aí. Ao longo de 12 episódios, os Wachowskis apresentam os oito personagens e seus dilemas. E é isso que faz a série ser tão boa. Aprendemos a amar Capheus (Aml Ameen) e sua luta para cuidar de sua mãe com AIDS, a se colocar na pele de Lito (Miguel Ángel Silvestre) e seu dilema por conta de sua homossexualidade, a sofrer com as angustias da transexual Nomi (Jamie Clayton), a se identificar com Wolfgang (Max Riemelt) e seu lado sombrio, a sofrer com o destino de Kala (Tina Desai)... Enfim, nos apaixonamos por aqueles oito completos estranhos.

A história de cada um deles faz com que nos esqueçamos de toda a parada da conexão mental. Sim, é legal vê-los se ajudando – como esquecer a cena em que Sun (Doona Bae) usa seu conhecimento em artes marciais para livrar a pele de Capheus? Ou quando Will (Brian J. Smith) se conecta com Riley (Tuppence Middleton)? – mas o verdadeiro mérito de “Sense8” é nos apresentar personagens marcantes. Além disso, a série explora todo o conceito de diversidade – seja ela étnica, religiosa ou sexual – que tem sido recorrente nas séries da atualidade.

Arrastada no início, “Sense8” vai ganhando um ritmo alucinante a partir do quinto episódio. Para muitos, a demora em engrenar é um defeito. Já eu acredito que é o grande trunfo, pois vai nos apresentando melhor cada um dos “sensates”. Fora que o esquema da Netflix de liberar todos os capítulos de uma vez só favorece a experiência de muitos que, como eu, assistiram tudo de uma vez.

Com suas polêmicas cenas de sexo homossexual e toda a questão do engajamento pela luta das minorias (vale lembrar que Lana Wachowski nasceu Larry e hoje milita nas causas LGBTT), “Sense8” questiona o status quo e coloca o dedo na ferida de muitos. Assista sem pré-conceitos e desfrute de uma das grandes obras desta que é conhecida como a terceira idade dourada da televisão.

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