Cinema

Publicado: Terça-feira, 23 de setembro de 2014

Indústria cinematográfica global perpetua a discriminação das mulheres

Estudo divulgado no dia 22 de setembro teve apoio da ONU.

Crédito: ONU/Paulo Filgueiras Indústria cinematográfica global perpetua a discriminação das mulheres
Instituto da atriz Geena Davis é um dos responsáveis por esta nova pesquisa

O primeiro estudo global sobre personagens femininos em filmes populares, lançado nesta segunda-feira, dia 22 de setembro, revela uma profunda discriminação e uma estereotipagem generalizada de mulheres e meninas na indústria cinematográfica internacional.

O estudo foi solicitado pelo Geena Davis Institute on Gender in Media, com o apoio da ONU Mulheres e da Rockefeller Foundation, e conduzido pela Dra. Stacy L. Smith e sua equipe de pesquisa da Annenberg School for Communication and Journalism da University of Southern California.

A investigação analisa filmes populares nos países e territórios mais lucrativos do mundo, incluindo Austrália, Brasil, China, França, Alemanha, Índia, Japão, Rússia, Coreia do Sul, Estados Unidos e Reino Unido, bem como colaborações entre os Estados Unidos e o Reino Unido.

Embora as mulheres representem metade da população mundial, menos de um terço de todos os personagens com fala nos filmes são mulheres. Menos de um quarto da força de trabalho fictícia no cinema é composta de mulheres (22,5%). Quando têm empregos, as mulheres normalmente estão ausentes das posições de poder. As mulheres representam menos de 15% dos empresários, políticos e funcionários de ciências, tecnologia, engenharia e/ou matemática.

“A verdade é que as mulheres são seriamente sub-representadas em quase todos os setores da sociedade no mundo todo, não apenas na tela. Entretanto, na maioria dos casos, simplesmente não estamos cientes do alcance disso, e as imagens na mídia exercem uma influência poderosa na criação e perpetuação dos nossos preconceitos inconscientes”, explicou Geena Davis, fundadora e presidente do Geena Davis Institute on Gender in Media.

“Contudo, as imagens da mídia podem também ter um impacto muito positivo nas nossas percepções. No tempo que dura fazer um filme, podemos mudar como será o nosso futuro. Lamentavelmente, há poucas mulheres na posição de CEO ao redor do mundo, mas podemos ter várias nos filmes. Como incentivamos mais meninas a buscarem carreiras em ciências, tecnologia e engenharia? Criando hoje várias personagens em filmes que trabalham em ciências, tecnologia, engenharia, matemática, política, direito e outras profissões”, acrescentou.

Os estereótipos também discriminam as mulheres em posições profissionais de prestígio. Há mais personagens do sexo masculino do que feminino como advogados e juízes (13 para 1), professores universitários (16 para 1) e médicos (5 para 1). Em contraposição, quando o assunto é hiperssexualização, os índices são em favor das mulheres. A probabilidade de mulheres e meninas serem representadas em roupas sexy, nuas ou magras é duas vezes maior do que entre meninos e homens.

“As mulheres contribuem mais para a sociedade do que apenas com a sua aparência”, disse a Dra. Stacy L. Smith, investigadora-chefe. “Esses resultados indicam que globalmente temos mais do que um problema cinematográfico no que diz respeito à valorização de meninas e mulheres. Temos um problema humano”.

Ao mesmo tempo que o relatório mostra como as atitudes discriminatórias que afetam mulheres e meninas estão refletidas em filmes globalmente, também aponta diferenças consideráveis entre os países. Os mercados na dianteira (Reino Unido, Brasil e Coreia do Sul) têm 38-35,9% de personagens femininos entre todos os papéis com fala no cinema.

As colaborações entre o Reino Unido e os Estados Unidos e os filmes indianos vêm por último no grupo, com 23,6% e 24,9% de personagens femininos respectivamente. Metade dos filmes sul-coreanos têm uma mulher no papel principal ou em papéis secundários importantes, assim como 40% dos filmes analisados na China, Japão e Austrália.

“Há vinte anos, 189 governos adotaram a Plataforma de Ação de Pequim, uma diretriz internacional pela igualdade de gênero pedindo à mídia que evitasse a representação estereotipada e degradante de mulheres. Duas décadas depois, este estudo é um alerta para mostrar que a indústria cinematográfica global ainda tem um longo caminho a percorrer”, disse a Diretora Executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka.

“Com uma influência poderosa em moldar as percepções de grandes audiências, a mídia exerce um papel fundamental na luta pela igualdade de gênero. Com essa influência vêm responsabilidades. A indústria não pode esperar mais vinte anos para tomar as decisões certas”, acrescentou.

Entre os filmes avaliados, apenas cerca de um em quatro cineastas são mulheres por trás das câmeras (diretoras, autoras e produtoras). No entanto, quando o filme conta com uma diretora ou autora, o número de personagens femininos na tela aumenta consideravelmente.

Uma solução óbvia para a disparidade de gênero no cinema é contratar mais cineastas do sexo feminino. Outra abordagem é exigir que os executivos da indústria cinematográfica tenham uma maior sensibilidade em relação ao desequilíbrio entre gêneros e os estereótipos nos seus filmes.

“A evidência é ainda mais clara agora que vimos tão bem como a realidade da vida das mulheres fora das telas é refletida nas telas”, disse Sundaa Bridgett-Jones, Diretora Associada da Rockefeller Foundation.

“Olhando para o futuro, a Rockefeller Foundation está comprometida com a expansão de oportunidades para uma prosperidade compartilhada de forma mais abrangente. Para que isso aconteça, precisamos deixar para trás os estereótipos que impedem que mulheres e homens alcancem o seu potencial humano máximo”, completa. 

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