Cinema

Publicado: Terça-feira, 19 de junho de 2012

Dia do Cinema Brasileiro: temos motivos para comemorar?

Data foi "oficializada" nos anos 1970.

Dia do Cinema Brasileiro: temos motivos para comemorar?
"Tropa de Elite 2": Raro exemplo de sucesso comercial

Por Leandro Sarubo

19 de junho de 1898. Um desocupado italiano chamado Afonso Segretto chega ao Brasil. Na falta de algo melhor para fazer, resolve filmar a Baía da Guanabara. Fim.

Esta é a história do nascimento do cinema nacional, cujo “aniversário” só começou a ser comemorado para valer nos anos 1970, a partir da iniciativa de alguém ainda mais desocupado.

A ideia de celebrar a cultura, seja por razão coletiva ou individual, é muito válida. O problema é que o Brasil nunca produziu um filme decente - conseguiu apenas criar alguns bons documentários. A tentativa mais próxima, “Tropa de Elite”, tem a profundidade intelectual de um filme de ação com baixo orçamento. Não há argumento algum entre os sufocamentos e bordões do Capitão Nascimento. Wagner Moura poderia ser facilmente substituído por Steven Seagal, por exemplo. Tanto no filme quanto no tributo à Legião Urbana, aliás.

Um mérito muito particular de “Tropa de Elite” é sua sinergia com o público. Pode ser palerma, pode ser rasteiro, mas o roteiro foi capaz de levar o brasileiro ao cinema mesmo sem prometer sexo ou atrizes peladas. O primeiro longa conseguiu 2,5 milhões de espectadores. O segundo foi além: superou 11 milhões, respondendo por quase metade dos 25,6 milhões de ingressos vendidos em produções nacionais durante 2010, segundo os dados da Filme B. José Padilha teve a capacidade de pensar em algo popular. Raridade entre os cineastas, que mesmo atolados de leis de incentivo e patrocínios estatais são incapazes de garantir bilheterias volumosas ou suficientes pra compensar o investimento.

141,7 milhões de bilhetes foram vendidos nos cinemas do Brasil em 2011, recorde histórico. Apenas 12,6% foram para os filmes brasileiros, que fabricaram dois sucessos: A comédia “De Pernas Pro Ar” (3,5 milhões de espectadores) e a comédia que não faz rir “Cilada.com” (3 milhões). 2012 tem tudo pra inflacionar ainda mais essa marca. No acumulado dos cinco primeiros meses, o total de vendas foi 1,45% superior. Quantos filmes nacionais ultrapassaram a barreira de 1 milhão de espectadores? Zero.

O problema do Brasil não é a falta de formatos. É a eterna repetição. As chanchadas continuam no circuito, mas sem a nudez. A nova geração repete as mesmas piadas do humor pastelão e cansado da época da ditadura. Quando não somos expulsos do Metrô Zorra Total acabamos na central ideológica dos doutrinados por Frei Betto e autores da esquerda anciã. O que muda é a fotografia. O nome dos personagens. A ordem de conclusão dos arcos. O resto é idêntico. Os cineastas sofrem LER.

O cinema nacional quer comemorar seu dia. Os brasileiros querem distância dele. Afonso Segretto poderia ter ignorado a Baía de Guanabara e nos livrado de mais esse fetiche cultural tupiniquim.

Comentários