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Publicado: Domingo, 11 de janeiro de 2009

Voyeur

Voyeur
De novo a música recorrente, a de costume em ziguezague na cachola.
 
Você e seu rosto de quem só acalenta bons presságios, não deixa margem pra que se enxergue um primeiro anúncio de ruga, sua carne de pêssego se decompondo um dia é coisa sem cabimento. Afago uma outra chance de te ver no desaviso, sem que saiba que te espio entre lençóis, tão você mesma. É assim que gosto, devassar você no quarto. Você zapeia a TV e eu te zapeio aos centímentros, sem controle. Dias de vinho e rosas como os que tivemos e guardamos escondidos da razão, como se guarda borboleta ou selo raro, quando outra vez?
 
Detida para averiguações, algemada por mim. Vamos à reconstituição do crime que cometemos ao deixar que houvesse entre a gente distância e compostura em demasia, o trato cerimonioso que se impôs a contragosto. Retomemos o que foi, vestidos de nudez. Andiamo via, na asa dessa aragem que vem agora da janela.
 
E nesse assédio à intimidade alheia, que é impróprio chamar de alheia em se tratando de você, quero ficar até render-me pasmo e adormecer, pele na pele, mãos nas mãos. Discreto e insuspeito como um voyeur que faz bem feito o seu serviço, mas zeloso e sentinela, atento aos cães rondando a madrugada. Durma. E saiba que não quero para você só os sonhos que pediu a Deus, mas os que Deus pediria a Deus se houvesse um Deus acima dele.
 
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