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Publicado: Quinta-feira, 10 de maio de 2018

Você vai me ajudar

            Permitam-me o leitor tocar no assunto sobre alagamentos, deslizamentos, soterramentos, desabrigados, etc. Vendo todas essas coisas acontecendo, não posso escapar da vala comum e falar o que outros já falaram.

            Nem sempre é fácil expressar os grandes sentimentos – eu diria – que muitas vezes isso é impossível. Certa vez, alguém disse que os desastres quanto mais longe acontecem, menos nos sensibilizamos. Ledo engano. As imagens mexem muito com a nossa sensibilidade social. Não importando a distância geográfica. São pessoas como a gente; sofrendo.

            Vimos as tragédias no Taiti, como também no Rio de Janeiro. Em São Paulo. Fica claro que é impossível darmos as costas para estes fatos.

            Exponho ao leitor este pequeno relato:

            Na Romênia um homem dizia sempre ao seu filho: Haja o que houver, eu sempre estarei ao seu lado. Aconteceu então um terremoto de grande intensidade que derrubou muitas construções lá existentes.

            Este homem correu para casa, verificar se tudo estava bem, mas seu filho ainda estava na escola. Ele foi imediatamente para lá e encontrou a escola totalmente destruída. Tomado de enorme tristeza ficou ali ouvindo a voz de seu filho e a promessa (não cumprida). Haja o que houver eu estarei sempre ao seu lado. Desesperado pôs se a percorrer os escombros, de repente parou em frente a que deveria ser a porta da classe. Nada! Apenas uma pilha de material destruído. Como do nada, movido por um impulso, começou a cavar com as mãos.

            Nisso chegaram outros pais, que embora bem intencionados e, também desolados tentavam afasta-lo de lá dizendo: Vá para casa. Não adianta, não sobrou ninguém. Ao que ele retrucava: Vocês vão me ajudar? Chegaram os policiais e o resgate que tentavam retirá-lo dali dizendo: Você está cego pela dor, não enxerga mais nada. Mas o homem dizia: Vocês vão me ajudar?

            Um a um todos se afastavam. Ele trabalhou sem descanso: 5, 10, 13, 24 horas e já exausto, dizia a si mesmo que seu filho estava vivo. Até que ao afastar uma enorme pedra, sempre chamando pelo  filho, ouviu: Pai... Estou aqui. Você está bem filho?

            Sim, pai eu e os meus amiguinhos estamos presos em um vão entre os pilares.  Estamos com fome e sede.

Pai, eu falei para eles: Fiquem sossegados, meu pai irá nos achar. Haja o que houver, meu  pai sempre estará ao meu lado.

            Filho abaixe-se e tente sair por esse buraco. – não pai! Deixe os meus amiguinhos sair primeiro... Eu sei que você estará me esperando.

            Na hora do desespero as atitudes são bem desesperadas. Mas em nenhum momento se deve perder a esperança. Quando vidas estão em jogo, todo cuidado é pouco.

            Apesar de tudo, seria bom que essas coisas não estivessem acontecendo.

 

Ditinha Schanoski

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