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Publicado: Segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Violência, crise de humanidade

Não é fácil definir a violência, embora seja fácil perceber sua existência e constatar que, infelizmente, ela faz parte da história do ser humano.

Aliás, o homem é realmente um ser incompreensível, surpreendente. É claro que tem muito do animal, de sua genética selvagem e violenta. O que se espera do homem é que esse patrimônio genético herdado seja anulado ou controlado pela vontade. Parece que a migração de animal para homem ainda está incompleta, estagnada.

Difícil entender que, concebido para ser um animal racional, inteligente, capaz de amar como Deus ama, esteja muitas vezes mais para um animal malvado.

Só mesmo Deus para compreender sua obra prima. Apostou tudo em nós. Quis correr o risco e nos dotou de uma grande arma: a liberdade. Esta transformou-se num “calcanhar de Aquiles” que ainda não conseguimos bem administrar. Mas, sem a liberdade seríamos escravos, marionetes e nunca filhos de Deus.

Concebidos para sermos perfeitos e santos, parece que estamos apenas no início da caminhada e grande parte se acha sentada à beira do caminho.

Eis, portanto, o homem, esse ser complexo e imprevisível em cujo coração convivem, em constante disputa, o bem e o mal, o amor e o ódio, a mansidão e a violência, a compaixão e a indiferença, o perdão e a vingança...

É fácil perceber a violência. Difícil é encontrar a tranquilidade onde se está constantemente ameaçado, em perigo.

Fraquezas humanas, correria e estresse da vida moderna, fracassos, frustrações, orgulhos e vaidades feridas, ciúmes, infidelidades, liberdade excessiva, distúrbios psíquicos e emocionais, brigas, dificuldades com os filhos, problemas financeiros e profissionais, acabam criando um ambiente favorável a ações e reações agressivas, intolerantes e violentas. Embora façam parte da vida, precisam ser bem administradas para não evoluírem explosivamente.

São situações que deveriam ser resolvidas com respeito, paciência, compreensão e diálogo fraterno. Mas, infelizmente, não somos adequadamente treinados, educados para isso.

Quando será que o homem vai desarmar as mãos e o coração, passar da cultura da violência, da morte, para a cultura da paz, da vida?

Mais uma vez o problema está na educação, na formação do ser humano que precisa sair da fase do instinto animal e ser educado para se transformar num ser civilizado. Mais uma vez vamos ter que chamar à responsabilidade os pais, para lembrá-los que a sua omissão é algo extremamente grave e de consequências desastrosas... que sentimos na pele e no bolso. Escapar da violência custa muito caro, seguramente muito mais que seu controle através de uma formação adequada dos filhos.

Educar a consciência. Esse é um dos nossos maiores patrimônios na área de convivência humana e cristã.

Conta uma antiga lenda que, certa noite, um velho índio falou ao seu neto sobre o combate que acontece dentro das pessoas.

Ele disse: – “Há uma batalha entre dois lobos que vivem dentro de todos nós. Um é Mau: É raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, orgulho falso, superioridade e ego. O outro é Bom: É alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade, humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé.”

O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô: – “Qual lobo vence?”

Então, o velho índio respondeu: – “Aquele que você alimenta.”

O que estamos ensinando com nossos gestos e atitudes?
 

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