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Publicado: Quarta-feira, 6 de julho de 2005

Uma Revolução Silenciosa na Marechal Rondon

Quando passamos pela rodovia Marechal Rondon, no trecho Itu-Jundiaí, talvez não nos damos conta da verdadeira revolução que ali está desenhada.

Preocupados em reduzir a marcha, em desviar das pedras e das enormes valas, preocupados com a obrigação eterna de chegar, não percebemos ainda com clareza a revolução silenciosa que está escondida por trás disso tudo, uma revolução no sentido exato da palavra, uma revolução que vai mudar para sempre a cara de várias cidades, de seus habitantes, da cultura de toda uma região.

A palavra revolução, que não tem nada a ver com golpe de estado, que não tem nada a ver com vontades pessoais, de egoístas que olham para o próprio umbigo, significa mudança cultural, mudança de hábitos, mudança de rumos, na vida de uma pessoa, na vida de uma família, na vida de uma cidade, na vida de uma nação, na vida da comunidade global.

O que está acontecendo neste exato momento, 6:30h de uma terça-feira deste inverno de 2005, e que acontece todas as noites e todos os dias, dia e noite, noite e dia, na Marechal Rondon, entre Jundiaí e Itu, que eu, com muita honra, presencio, quando, algumas vezes por semana, a trabalho, passo por esse trecho, é uma revolução, no sentido exato da palavra, e é sobre isso que gostaria de falar aqui.

Dezenas de caminhões, talvez centenas, não sei; centenas de homens, peões, mestres de obra, engenheiros, paisagistas, topógrafos, enfermeiros, motoristas, ajudantes diversos, trabalham incessantemente na construção da segunda pista e reforma, ou reconstrução, da antiga.

As imensas pedras que só podem ser removidas com explosões, sobre as quais ouvimos falar e somos alertados em toda mídia ituana e regional, vão sendo depositadas em imensas valas escavadas nas montanhas e nos vales, valas essas que serão cobertas por terra e asfalto, transformando-se na nova rodovia. Com certeza uma rodovia que irá durar cem,duzentos anos – só este fato em si já é uma revolução em um país acostumado a ver asfaltos-casca-de-ovo feitos para encher os bolsos de corruptos.

Por baixo das rodovias enormes tubos, içados por máquinas imensas, vão se transformando na canalização que dará vazão às águas das chuvas e dos riachos que correm constantemente na região. Ao lado, sob os olhares constantes de engenheiros atenciosos e ciosos do dever (como eu vejo isso), sob a batuta de trabalhadores anônimos, vão sendo construídas as paredes de contenção para proteger a rodovia dos deslizamentos e das pedras que podem rolar, e rolam, das encostas e dos montes.

No Bairro do Jacaré a antiga e amarrotada rodovia, sem passagem para pedestres, está dando lugar a uma pista de mão dupla com passagem aérea para os transeuntes, sinalização moderna e tudo o que há de mais avançado em segurança. É simplesmente fascinante ver o que foi feito lá, com a retirada de centenas de caminhões de terra, terra essa depositada em outros pontos da pista, para nivelamento e maior segurança no tráfego.

È um trabalho sério, de um Brasil sério. È um trabalho digno, digno de São Paulo e do Brasil, uma maravilha que enche os olhos de quem quer ver.

Mas qual a razão de considerar isso uma revolução silenciosa?

Esta rodovia, construída no passado com a intenção única de facilitar o transporte de passageiros e cargas à capital, que agora é duplicada e totalmente reformulada nos itens paisagismo e segurança, passará a ser um canal turístico daqui para a frente, unindo a capital às estâncias turísticas de Itu, Salto, Cabreúva (não sei se já tem o título) e Porto Feliz. Só que ao unir a capital estará também unindo outras cidades da grande região e do Vale do Paraíba, ou seja, uma população de mais de vinte milhões de pessoas, maior que a maioria dos países do mundo.

Outra coisa que nos chama a atenção é o fato de que passará a ser, doravante, a alternativa para a sofrida Rodovia do Oeste (conhecida com Castelo Branco) e trará para a área central de Itu, principalmente, mas também de Salto, caminhões e ônibus que antes não achavam vantajoso passar por aqui, quer seja pelos danos que os veículos sofriam na antiga rodovia, quer seja pelo valor do pedágio. Agora não, agora será tudo diferente. Claro, esperamos que os prefeitos da região se unam e não permitam uma agressão de cima para baixo, com a elevação dos valores de pedágio, como aconteceu na rodovia dos Imigrantes – esta é uma ação que tem que ser enérgica e determinada – se isso ocorrer, que sejam responsabilizadas as concessionárias pela reforma e manutenção das avenidas dentro das cidades, por onde irão passar os veículos pesados originários da Marechal Rondon.

Mas nos resta analisar outros aspectos. Como estão sendo preparadas as cidades acima citadas para receber os turistas que, com certeza, virão? Como estão sendo treinados os atendentes de balcão, como está sendo preparada a segurança, qual o planejamento para receber os novos investimentos tanto na área de lazer e turismo, quanto nas áreas de cultura e indústria? Uma estância turística tem, por obrigação, senão legal, moral, que manter os principais serviços à disposição dos turistas, quais sejam, banheiro público, estacionamento seguro, servidores públicos ciosos colocados nos principais pontos da cidade, orientando os visitantes – acho que a solução seria mudar os horários de trabalho de 1/3 dos servidores para que pudessem estar prestando serviços nos finais de semana, quando a cidade realmente precisa deles - hotéis, bares e restaurantes limpos, igrejas históricas abertas e limpas, sem beatas conversando o tempo todo, museus e lugares históricos abertos (pelo amor de qualquer coisa!) e preparados para prestar todas as informações; pipoqueiros, guardas, sorveteiros, balconistas, enfermeiros, médicos, treinados e cientes de que moram em uma estância turística e precisam estar prontos para prestar informações básicas ao turista.

Esta revolução que acontece na Marechal Rondon está batendo às nossas portas, será que nos demos conta disso? Que tal se todos nós, professores, vereadores, prefeitos, secretários, empresários, entre outros, fizessem um “brain storming” (termo usado em administração para levantar todos os problemas e sugestões), separadamente e/ou em conjunto, para nos prepararmos agora (e já estamos atrasados) e tomarmos as medidas necessárias? Será que as faculdades e universidades da região não topariam assumir a responsabilidade de um planejamento neste sentido, até como trabalho para os futuros administradores, profissionais de turismo e outros profissionais?

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