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Publicado: Quinta-feira, 2 de junho de 2005

Uma relação tão delicada

Escrevo sobre uma relação muito delicada, mas inevitável nos dias de hoje. Mesmo que a nossa escolha seja não participar dessa relação, é impossível. Somos chamados, assediados, seduzidos para entrar em contato com ela. Ela não toca a campainha. Bate à nossa porta, entra sem pedir licença, invade a nossa casa, nosso carro, as ruas onde pisamos, os nossos pensamentos e as nossas emoções. Alguns são guiados por ela de uma forma quase inacreditável. Pautam sua vida seguindo seus conselhos, sem mesmo se perguntar se é isso mesmo que querem fazer. Os comentários no bar, no supermercado, nas escolas e nas rodas de negócio também são extremamente influenciados por ela, que sorrateiramente, ou mesmo extravagantemente, mostra sua face sob diversas formas de expressão. Estou falando da nossa querida mídia.
Embora ela seja uma das principais estrelas do século XXI, transmissora das novas tendências e detentora do saber, arrisco dizer que ela tem o seu lado frágil. Apesar de conhecer nossos pontos fracos e trabalhar com a vaidade alheia como ninguém, ouso insistir que ela também tem a sua vulnerabilidade.
Não penso que ela é ruim, pelo contrário. Por ser poderosa, pode mudar o mundo. E como precisamos desse poder para transformar nosso universo em um bom lugar para viver! Mas acho que ela ainda não se deu conta disso, apesar de ser inteligente e perspicaz.
O que mais admiro nela é a sua criatividade e beleza, acompanhada por uma força capaz de interferir na maneira das pessoas verem e sentirem o mundo. Ao mesmo tempo, o que mais me entristece é que esse poder muitas vezes é utilizado apenas para benefício próprio, sem levar em conta tantas coisas importantes do viver.
Essa relação tão delicada, tatuada em nossas entranhas, é vivida diariamente entre nós e a mídia. Ninguém passa indiferente por ela.
Durante muitos anos vivi com a mídia uma relação de expectadora, assistindo suas travessuras, ora tentando me proteger de sua interferência indesejada, ora me deslumbrando com sua criação. O que eu não imaginava é que um dia eu deixaria de ser apenas expectadora para ser um agente ativo dessa comunicação. Quando passei a gerenciar o www.itu.com.br, uma mídia digital, entrei nos bastidores desta relação, ocupando uma cadeira que até então eu nunca havia sentado. Pude sentir o peso desse poder, a responsabilidade da escolha. Percebi que tinha em minhas mãos um veículo de transformação humana, embora fosse uma pequeniníssima parte de um profundo e infinito oceano. Neste pequeno universo, eu podia escolher para onde direcionar o olhar. Fui aprendendo - e esse aprendizado não pára nunca — as sutilezas dessa tarefa. Separando o joio do trigo, fui buscando um jeito eficaz de transmitir jornalisticamente e publicitariamente o que há em Itu, de forma a valorizar nossa cidade e nossos talentos. Tive a sorte de começar pela mídia mais interativa que existe, a mídia digital, caoticamente organizada para atender tribos e comunidades através de uma linguagem mais livre.
Durante esses últimos cinco anos, o www.itu.com.br foi criando uma identidade editorial, que na verdade reflete o que eu acredito da vida e do viver: que temos o poder de valorizar o melhor das pessoas, de ajudar a brilhar, de espalhar aos quatro ventos nossas realizações e criações, apesar de tantos erros e imperfeições. Afinal, a vida não é fácil para ninguém e ao mesmo tempo pode ser tão bela. Temos o poder de escolher o que queremos para o nosso caminho e que olhar queremos ter para nós mesmos e para as pessoas e acontecimentos à nossa volta.
A mídia, qualquer que seja, tem igualmente esse poder. Pode valorizar ou destruir, acordar ou adormecer, incluir ou excluir, criticar ou construir, assistir ou agir. A mídia pode escolher se quer realmente fazer uma diferença, não apenas pelo gosto do poder, mas pelo delicioso sabor de ajudar a humanidade a evoluir.
A mídia pode escorregar, assim como nós em tantos momentos da vida, perdendo-se no meio do caminho, adormecendo, esquecendo nossa verdadeira vocação. Mas nunca é tarde para retomar o percurso e alterar as rotas, sempre que necessário for.
Basta lembrar que não estamos aqui por acaso. Portanto, façamos o nosso melhor e cuidemos, todos nós, desta relação tão delicada!
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