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Publicado: Quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Uma "Vitória"

Crédito: Arquivo pessoal Uma "Vitória"
"Vitória" sorrindo

A noite chegava de mansinho, após um dia morno de domingo. Uma freada, um grito agudo e então tudo mudou. Numa velocidade incrível, quase como automaticamente, eu corri... corri até chegar ao portão e chamar por mais ajuda. Sem refletir, com o coração palpitante, me aproximei da cena e entrei embaixo do automóvel. Ele estava ali, paradinho, mas vivo. Meu Deus, obrigada! Era tudo o que eu esperava naquele momento.

Aos poucos conseguimos tirá-lo de lá. Já com ele em meu colo, mesmo sem conhecer o casal que por uma infelicidade passava por ali naquele instante e não conseguiu desviar, entrei pela porta de trás e partimos todos para o veterinário. No meio do caminho, pra minha admiração e alívio, aquele animalzinho ainda tão machucado já era capaz de retribuir a ação com lambidas. Fui falando com ele, afirmando que tudo ficaria bem, talvez numa tentativa até de me convencer do mesmo. Nem seu peso, nem o sangue que pingava, nem seus pelos que caíam muito importavam naquela hora, só queria ouvir uma confirmação de que seu estado de saúde não era grave. Ao colocá-lo em cima da mesa, foi como se um pedaço do meu coração fosse deixado ali também.

Ao finalmente escutar uma boa notícia da médica veterinária, consegui raciocinar melhor sobre a situação. Quem era esse animalzinho, ou melhor, essa cachorrinha? Sim, descobrimos ser uma linda menina... de pelos pretos, com manchas brancas e um olhar penetrante. Teria ela um dono? Pela falta de cuidados, pelo jeito acanhado e a correria na rua que a fez chegar até aqui acredito que não tenha um protetor há bastante tempo. Mas nunca a tinha visto pela região. O que fazia ali, brincando perigosamente com outros cães, numa das avenidas mais perigosas da cidade? Isso talvez nunca me seja respondido. Prefiro então pensar que estava ali porque tinha que estar, e eu estava ali tão perto porque nossas vidas tinham que se cruzar.

Sempre me pergunto se um dia isso vai acabar, se histórias como essas vão parar de acontecer. Quando reflito sobre o número de acidentes com animais, que ocorrem a toda hora pelo mundo, é como se uma faca fosse cravada em meu peito. Me falta o ar, os olhos ficam cheios de lágrimas e tenho vontade de sair correndo. Então imediatamente tento me lembrar dos finais felizes, das pessoas boas que conheço e que tanto ajudam os animais nesses e noutros momentos, que tanto lutam para que esse cenário de abandono de animais seja transformado, e aquieto assim meu coração. Graças a Deus a bondade prevalece.

Enquanto esse dia não chega e os acidentes continuam, fico com o sorriso da "Vitória" como esperança. Afinal, essa história é uma grande vitória da vida, e do amor.

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