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Publicado: Quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Um retrato desconhecido

Um retrato desconhecido
Um retrato pintado pela desesperança...

Gosto de conversar com as pessoas. É na conversa espontânea que  amplio a visão de mundo, confirmo as diversidades individuais e percebo-me em processo de mudança constante. Ouvir e realmente escutar exige um exercício difícil, de sair de si mesmo para se colocar no lugar do outro. Significa um abandono temporário das idéias e um retorno engrandecido.

Nestes dias, próximos a mais uma eleição, o assunto das conversas de esquina é a sucessão governamental, e por trás desse tema escondem-se os anseios e os desejos do nosso Brasil. Se prestarmos atenção no perfil dos nossos políticos compreenderemos o desenho real de um país de economia rica e sociedade pobre. De carros modernos e escolas abandonadas, de muitos internautas e poucos leitores.   

Quem foi mesmo que disse que “o povo tem o governo que merece”?

Não me julgo merecedora de um governo corrupto, desonesto, enganador e mal intencionado. Honro e preservo minha cidadania: pago os impostos corretamente, aliás, muitos impostos. Trabalho todos os dias de forma competente e dedicada; gozo férias uma vez por ano, embora muito menos do que 30 dias. Respeito e obedeço às leis e, se me descuido, pago as multas devidas. Enfim, zelo pela vida correta, digna e honesta. Por isso a política me incomoda e conversar sobre ela, mais ainda.

Mas o que incomoda mesmo é o período das campanhas eleitorais. Tenho horror aos discursos hipócritas da maioria dos candidatos. Penso que esse período é responsável pela apatia, em muitos casos aversão, política dos brasileiros. Não são poucos os eleitores que se desinteressam, ignorando ou desistindo da escolha do seu candidato.

Que país se constrói com votos nulos?

Recentemente encontrei-me com um velho conhecido: sujeito simples, inteligente, simpático e trabalhador. Não contrariando o assunto da hora, conversamos sobre as campanhas eleitorais dos principais candidatos à presidência. Com muita sinceridade ele me disse que irá anular o voto pela segunda vez. A princípio, sem exercitar o desapego das minhas convicções, o julguei irresponsável.  No entanto, como de costume quando estabeleço um diálogo, fitei seus olhos atentamente para ouvi-lo de fato. Sua argumentação não foi menos convincente, pelo menos do seu ponto de vista: "sou homem honesto e trabalhador, vivo para sustentar minha família e dormir tranqüilo. Como posso optar pelo que não mais acredito? Estou consciente do que pretendo fazer, por isso posso dormir em paz...” 

Essa conversa me fez pensar no retrato de um Brasil pintado pela incredibilidade e desesperança. Num país feito de homens que não mais acreditam nos seus governantes e que por isso desistem do exercício da cidadania... E nesse gesto, constroem um país órfão do seu povo, à deriva da sorte, refletindo no espelho dos seus governantes a imagem de um retrato desconhecido. Porque, como diz Martin Luther King, "o que mais preocupa, não é o grito dos valentes, nem dos corruptos, ou dos desonestos, tampouco dos sem ética; o que mais preocupa é o silêncio dos bons".

O voto nulo é o silêncio dos bons!!

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