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Publicado: Domingo, 8 de abril de 2007

Um Mundo de Tomés

O que você faz nas tardes de domingo? Recebe a família para aquela macarronada, assiste futebol pela televisão, passa um tempão conversando com a comadre ou tira aquele cochilo na rede, no sofá da sala. Principalmente para quem não tem filhos ou netos pequenos, o domingo se transforma no dia da tranqüilidade e do descanso. Oásis de quietude em meio ao mar de correrias do cotidiano.
 
Aquela tarde de domingo não estava sendo nada tranqüila para os Apóstolos de Jesus. Três dias após testemunharem a morte do Mestre, cada qual remoía no peito as próprias culpas. Na hora da vigília com Jesus, dormiram. Na hora da prisão de Jesus, foram embora. Na hora da crucifixão, não estavam lá. O chefe dos doze negou Jesus três vezes, como havia sido dito que faria. Um pouco antes um do meio deles traiu Jesus por trinta moedas. Somente um dos Apóstolos permaneceu firme durante toda a agonia do Mestre e mesmo ele sentia-se culpado por não poder fazer nada que evitasse o inevitável...
 
Sem Jesus, o que seria deles? Era nele que encontravam forças e depositavam esperanças. As coisas que o Nazareno disse, as promessas que fez, as lições que ensinou, as parábolas que contou, as curas que realizou, os milagres que protagonizou, todas essas coisas estavam perdidas. Pensaram que aquele filho de carpinteiro fosse o Messias, o Cristo ungido por Deus. Haviam se enganado. Era mais um dos grandes profetas, como Elias, como João Batista. Como eles, Jesus também fez muitos prodígios e se deixou prender para ser morto.
 
A espera pelo Messias continuaria. Os mestres-da-lei e os fariseus do Templo de Jerusalém estavam certos. E o que fariam com eles, os discípulos de Jesus de Nazaré? Teriam o mesmo destino? Seriam também condenados ao suplício e à morte? Ficaram trancados dentro de uma casa, com medo das lideranças judaicas. Por tanto medo é que resolveram permanecer juntos. Já não era mais a fé que os unia e sim o pavor. Era tudo uma questão de tempo para que também fossem executados.
 
E de repente tudo se transforma. É assim que Deus trabalha. Jesus aparece no meio deles, como se nada tivesse acontecido. Como se não tivesse sido preso, torturado e assassinado na cruz. Como se não tivesse expirado seu último suspiro e colocado no sepulcro. O Mestre desejou a paz, ninguém teve coragem de responder. A confusão juntou-se ao medo do qual já estavam mais que impregnados. Seria um fantasma? Uma ilusão mental coletiva? Uma artimanha do demônio ou um truque dos judeus?
 
O Ressuscitado mostrou-lhes as mãos e o lado. Foi ali que os cravos de ferro estiveram. Foi ali que a lança rasgou a carne e furou o coração manso e humilde do Cordeiro de Deus, fazendo jorrar água e sangue. “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, também eu vos envio!”. Como continuassem incrédulos e sem responder, Jesus soprou sobre eles. “Recebei o Espírito Santo! A quem perdoarem os pecados, estes serão perdoados. A quem não perdoarem os pecados, estes não serão perdoados”. E sumiu, simples assim.
 
Tomé não estava lá, talvez se escondeu em outro lugar. Quando os outros lhe contaram o ocorrido, não acreditou. Era absurdo demais para alguém tão racional. É claro que estavam querendo lhe enganar. Passaram a semana tentando convence-lo. Vejam bem: uma semana! Seus filhos já ficaram uma semana lhes pedindo algo? Lembra-se de ter ficado uma semana adoentado? E aquele cheque sem fundo que lhe passaram e demorou uma semana para entrar na conta bancária? Pois é. Uma semana não é pouco tempo. E mesmo assim Tomé não se convenceu...
 
Entra Jesus novamente em ação. Como da primeira vez, coloca-se repentinamente no meio dos Apóstolos e se dirige especialmente ao discípulo incrédulo. Mostra os sinais dos pregos. Faz colocar o dedo na ferida de seu peito. E diz: “Sou eu! Pare de duvidar e acredite!”. Dizem que às vezes o silêncio é a melhor resposta para determinadas ocasiões. Discordo, pois em certos casos uma profissão de fé ajuda muito. “Meu Senhor e meu Deus!”, foi o que exclamou Tomé. Ele acreditou porque viu, porém muito mais felizes são os que acreditam sem ver. Assim disse Jesus, explicando que é mais agraciado o discípulo que enxerga os mistérios divinos com os olhos da fé e não com a visão da razão humana.
 
Jesus fez e ainda faz muitos milagres. Mas ainda hoje há por aí uma legião de Tomés impondo condições. “Se a Igreja não aprovar o divórcio, não acredito nela... Se a Igreja não aprovar o aborto, não me tornarei católico... Se a Igreja não aprovar a eutanásia e a união entre pessoas do mesmo sexo, não serei um de seus seguidores...”.
 
Felizes os que têm fé e acreditam nos ensinamentos do Filho de Deus sem imposições ou objeções. Amém!
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