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Publicado: Quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Um criminoso à procura de um criminalista

A operação Lava Jato causou um rebuliço no meio jurídico. Com tantos investigados, indiciados e condenados, faltou advogado criminalista para tantos criminosos, sejam políticos ou empresários. A abundância de processos causou também uma elevação nos honorários da classe advocatícia, o que não representou um problema real para os réus, uma vez que muitos conseguiram roubar para si, para suas famílias e ainda sobrar um tanto para os defensores nas intermináveis instancias da justiça nacional. Além disso, o risco de sentenças desfavoráveis justificou o pagamento de valores milionários às bancas de advogados.
       
Um desfile de notáveis percorreu as barras dos tribunais nos últimos anos. Nomes famosos como Antonio Carlos de Almeida Castro, vulgo Kakay, excêntrico e ostentoso, defende José Sarney e a filha Roseana, além de outros meliantes menores. José Luiz de Oliveira Lima, codinome Juca, tem a seu cargo a defesa do inimigo público nº 2, José Dirceu, de quem é amigo e o tem visitado na prisão frequentemente, o que deve ocupar o seu tempo por muitos anos. Arnaldo Malheiros Filho é outro notável, defensor de Paulo Maluf, Delúbio Soares e do banqueiro Edmar Cid Ferreira.
     
Na esteira dos famosos causídicos surge um jovem guiado pelas mãos do finado Marcio Thomaz Bastos. Pierpaolo Bottini carrega o triunfo de haver livrado da cadeia o professor Luizinho do PT, no escândalo do mensalão. Pierpaolo é pupilo do ex-ministro da Justiça Thomaz Bastos, que desonrando a Justiça livrou o amigo Lula do Mensalão do PT e, se hoje estivesse vivo, lamentaria a condenação do amigo nos processos do Petrolão. Bastos advogou, a peso de ouro, para outros famosos, como o bicheiro Carlinhos Cacheira, o bispo Edir Macedo e Roger Abdelmassih, o estuprador.
     
A escassez de criminalistas contribuiu para a ascensão meteórica de jovens advogados desconhecidos, como Adriano Bretas e Ticiano Figueiredo, que hoje mergulham em piscinas de champagne graças às fortunas amealhadas pelos réus da Lava Jato. Nada a contestar sobre o direito de defesa dos réus, garantido pela Constituição. O que dói no bolso e na alma é constatar que os honorários que inundam os cofres dos advogados são produto do roubo praticado pelos políticos e empresários desonestos contra as vítimas que somos nós, os cidadãos lesados pelos criminosos.
     
O próprio Lula reforçou seu milionário time de advogados com a contratação de José Roberto Batochio. A ironia é que o mesmo advogado defende também o ex-ministro Antonio Palocci, que denunciou o chefe Lula em inúmeros crimes. Um caso de conflito de interesses.
     
O compadre de Lula, Roberto Teixeira, também réu na Lava Jato, comanda a defesa do amigo nos bastidores, tendo à frente o seu genro Cristiano Zanin, cujo feito mais notável foi ter conseguido aumentar a pena do seu cliente de 9 para 12 anos.
     
Uma circunstância nova ameaça, porém, o poder dos notáveis da velha guarda. Uma nova leva de procuradores e desembargadores, com formação jurídica esmerada e pós-graduação nas escolas americanas de direito tem construído peças condenatórias impecáveis, para desespero dos defensores. Além do juiz Sergio Moro, destaca-se o trio formado por João Pedro Gebran Neto, Leandro Paulsen e Victor Laus, que sentenciou Lula a 12 anos e 6 meses de prisão. Discretos, rigorosamente técnicos e amparados nas leis, os quatro deram uma lição jurídica ao país. A Polícia Federal, sua aliada, revelou as provas dos crimes que ampararam a sentença, sem margem a contestações. Práticos, objetivos e com ênfase no processo, a linha anglo saxônica de atuação dos jovens desembargadores contrasta com a morosidade e pedantismo das cortes superiores.
     
Assim, apesar de toda a fama dos notáveis criminalistas, a Justiça tem colocado atrás das grades vários bandidos também famosos, notadamente aqueles que não gozam da “impunidade” parlamentar. Os que estão protegidos pelo foro privilegiado continuarão nas mãos inócuas do Supremo. Aos criminosos convém buscar novos criminalistas que estejam á altura dos jovens e destemidos juízes e procuradores. 

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