Sorria: Você está sendo (per)seguido
Amizade, namoro e sexo. Tudo via redes sociais. Lá mesmo, na rede, você expõe os alimentos que prepara, onde e com quem esteve, a marca preferida da cerveja, onde estudou, mora, gostos pessoais, se está num relacionamento complicado ou sério e fotos. Muitas fotos. Dos filhos - incluindo os ultrassons e partos – dos passeios, da companheira...
Você posta charges, frases e comenta sobre tudo e todos. Se manifesta a favor ou contra um determinado assunto – ou compartilha os comentários, deixando claro seus pontos de vista com singelos kkkk, ehehe, rsrs, huahuahua, pontos de exclamação, interrogação e caretinhas.
Ainda posta em tempo real. Está em cima do telhado? Manda logo uma fotinho pelo celular. Machucou o dedão? Manda outra. O amigo dorme com a boca aberta? Azar o dele – vai pra rede - ehehe.
E os “curtir”, então? Nem precisa ler todo o post ou ver as cento e cinqüenta fotos. Clica lá e pronto.
O que a maioria das pessoas se esquece é que são monitoradas por cookies, de olho em cada clik: as pesquisas que você responde com um SIM ou NÃO, os sites que visita, as compras e pagamentos. Toda informação sobre você é importante.
Além disso, você envia torpedos pelo celular e twita o tempo todo? Utiliza GPS? Fez o cadastramento biométrico em bancos, no Cartório Eleitoral ou aeroportos? Paga as contas com cartão de débito/crédito? Exige Nota Fiscal Paulista?
Pois é. Você, eu e o mundo caímos na “malha fina” – não a do imposto de renda, mas a do cyberespaço - onde as informações são armazenadas na “nuvem” (cloud).
Para que seu perfil seja traçado com maior precisão, chegou a Big Data – a nova tecnologia que permite analisar qualquer tipo de informação digital em tempo real.
Segundo a IBM em 2008 foram produzidos cerca de 2,5 quintilhões de bytes todos os dias. Surpreendentemente 90% dos dados no mundo foram criados nos últimos dois anos, devido a adesão das grandes empresas á internet, como as redes sociais, dados dos GPS, dispositivos embutidos e móbil.
O software de Big Data recolhe todos os dados gerados, permitindo que os administradores e analistas se preocupem em como usá-los mais tarde.
Um projeto das Nações Unidas irá utilizar um programa que decifra a linguagem humana na análise de mensagens de texto e posts em redes sociais, para prever o aumento do desemprego, o esfriamento econômico e epidemias de doenças.
Uma empresa varejista americana controla as combinações de produtos que seus clientes põem no carrinho, descobrindo várias curiosidades sobre eles que ajudam a aumentar as vendas.
A massificação de dados ainda enfrenta obstáculos, como o que se refere à privacidade. Se a recomendação de links patrocinados pelo Google parece invasiva para muita gente, o mundo e a legislação em vigor não estão preparados para as infinitas possibilidades que o Big Data oferece, de agregar e tirar conclusões de dados aparentemente sem nexo.
Os mundos “real” e “virtual” estreitam cada vez mais as suas distâncias. A vigilância virtual é complementada nas ruas, lojas, hipermercados, escolas, hospitais e elevadores, com câmeras que monitoram seus passos e comportamento. Só na capital paulista há 1,5 milhão delas – número considerado insuficiente para os especialistas.
A novidade do momento são os Drones - robozinhos voadores equipados com câmeras - que já se espalham por São Paulo e outras capitais - para observar lugares e hábitos da população.
O artefato alcança 350 metros de altura e chega a centímetros de distância das janelas mais altas dos prédios. Em segundos e com uma guinada pode registrar até os sapatos dos pedestres.
Já foi adotado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas, na Cidade Universitária, para elaboração de mapas detalhados, na publicidade, em eventos, como casamentos, imobiliárias - para estudar terrenos e produzir vídeos que demonstrem qual será a vista de determinado apartamento antes da construção.
A discussão sobre privacidade e propriedade privada mal começou. Por via das dúvidas, dê uma olhada pela janela da sua casa. Não tem nada voando por aí?