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Publicado: Sexta-feira, 29 de maio de 2009

Solidariedade

Não obstante a perplexidade nacional, frente às vicissitudes do sofrido povo de Santa Catarina, agora, quando os irmãos do Norte e Nordeste padecem de enchentes de proporções infinitamente maiores, aqui no Sul e Sudeste, não se sabe de ações de socorro aos irmãos de lá.
 
Atendimento de ordem governamental, do setor público, federal principalmente, medidas vêm sendo tomadas.
 
O fato é que a catástrofe de lá de cima tem proporções alarmantes e mesmo as providências oficiais, tão logo baixem as águas, sabe-se diante mão que diminuirão. Não será de duvidar que os pobres irmãos fiquem relegados à própria sorte. Que tipo de sorte!
 
Afora o espanto diante das imagens proporcionadas pela mídia, a solidariedade prestada ao Sul não se repetiu em relação à gente do Norte. Curioso observar essa mudança de apreciação.
 
Não justificaria jamais, embora se possa conjeturar que a diferença de tratamento a iguais (somos irmãos), neste caso, se deva à distância geográfica. Ocupam-se as pessoas – seria isso? – muito mais do que lhes esteja próximo ou vizinho.
 
A ser verdade que reside aí – nesse pormenor, o da distância – pode ser que às vezes até aflore a conclusão de que ser apenas de dimensões continentais, o Brasil só se encheria de um orgulho vazio.
 
Na prática, ser enorme, gera mais problemas do que vantagens. Isso sem falar na demorada transição a ser operada na mentalidade devassa do modo de como se faz política neste país. Os três poderes, hoje, sapateiam juntos na poça de lama sórdida de corrupção, caradurismo e pouca vergonha.
 
O drama das enchentes, naquela região que fora delas padece de secas infindas – problemas sempre – é que houve devastação. Casas, bairros e até cidades, viraram o nada. Deram-se conta de que todos devem alocar-se em faixas de terra mais elevadas, ao escape das águas.
 
Santa Catarina teve o mesmo problema, em proporções menores, conquanto ainda haja desabrigados ou acomodados em galpões, sem chance de ter de novo suas casas.
 
Com tudo isso, sob certo aspecto, haveriam de cair em si os da região ao sul do Nordeste, e do centro sul. Espírito Santo, Rio de Janeiro, parte do Mato Grosso, São Paulo e Paraná e, em parte, a região dos vendavais, o Rio Grande dos gaúchos. São privilegiados.
 
Não há previsão de melhora no imponderável das ações da natureza nem nas reações dos homens. Vive-se ao sabor do ignoto. Que benefícios virão? Que males poderão acontecer?
 
A solidariedade – num âmbito global de regiões daqui e de lá – é de manifestação temporária.
 
As populações se dispersaram até no circuito fechado das próprias cidades em si.
A comunhão de vizinhanças desapareceu. Já não mais se sabe de quem more ao lado.
 
A vida social – até ela – se mede e se localiza, não raro, guiada por interesses. A geração dos amigos úteis. Ou de provável interesse.
 
Afeto na estrita noção do termo (e nele se contém justamente a verdadeira solidariedade), onde poderá existir?
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