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Publicado: Quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Sobre estagiar

Sobre estagiar

Estágio, “fase, etapa, período de prática que precede a contratação ou a diplomação em certas profissões”.

Como bem sabemos, para muitos cursos de graduação, para conclusão e colação de grau existe a exigência da entrega de Fichas Cumulativas e Relatórios de Observação feitos em uma determinada escola, bem como a entrega da Monografia.

Para grandes empresas, o estágio (que muitas vezes é remunerado) é a oportunidade de iniciar uma brilhante carreira, onde o aprendiz absorverá e praticará muito conhecimento que até então ele só tinha em teoria – e aprende também tudo mais que a teoria não ensina.

A escola não é diferente, leitores. Muita coisa que a teoria não ensina a prática demonstra. E demonstra mesmo. Demonstra muito, mas sem remuneração.

Há muitos anos, na história da educação brasileira, o ambiente escolar possui alunos educados, que cumprem tarefas e aceitam regras de convívio harmonioso, como também existem alunos difíceis, bastante desrespeitosos com os profissionais da educação, e passam grande parte do tempo tentando resolver-se quanto a adolescência e aceitação social, e isso é um fato, e acontece em muitas escolas e grupos de ensino.
A posição desse profissional de educação, na prática, é mesmo um desafio árduo e contínuo – acontecem surpresas a todo instante, as salas são muito variadas, tanto culturalmente como social e até mesmo temperamentalmente.

Resumindo, leitores, o estagiário aprende que é preciso respirar fundo e ser forte, e então decidir se é este mesmo o caminho que pensávamos que queríamos – isso tudo porque, estagiar e ao mesmo tempo confeccionar os relatórios de cada observação feita na escola do estágio nos coloca diante de uma experiência louca, com todos os sentimentos e pensamentos mais insanos. Uma descarga elétrica para realmente afugentar o estudante e despertar o profissional.

Mas, enquanto isso, somos alunos (reclamamos, deixamos o relatório para última hora, praguejamos). Somos alunos... Vivemos um cansaço coletivo, e este episódio foi bem colocado por Mirela Rabachini, graduanda em Letras e enérgica reivindicadora:

"Aquela pilha de fichas me olhava todos os dias e o péssimo hábito de adiar sempre andou comigo, e dia após dia eu olhava para as fichas, o tempo acelerava e eu pedindo calma, digitar, conferir, ver assinaturas, dia correspondentes com as horas, letras pequenas, não poderia ter erros, tinta? Ah sim, com certeza, calo nos dedos, a visão se apagava a cada "hora/data”. Relatórios e mais relatórios, noites sem dormir, errar, corrigir, mais errar, após um ano de sofrimento, entregue, quando vi o protocolo assinado, senti que aquele momento, diferente de todos já vividos... foi epifânico."

E entre reclamações, muitas estruturas pessoais foram sustentadas, muitas barreiras ultrapassadas. Flávia Bragagnolo, graduanda em Letras, retrata que, como toda fase da vida, as superações e autossuperações são necessárias, e nem sempre as despedidas são ruins: 

"O estágio? Meu Deus, não me matou por sorte. (Ainda que eu acredite que tenha sido por birra, o estágio queria me ver sofrer aquele bocado todo). Fichas? Horários? Espacinhos miúdos com informações amarrotadas? É... Minha imaginação judiou dos meus olhos. (ehehe). Ainda que tenha sido uma correria, foi gostoso deixar aquelas folhas todas no plantão. (Nunca foi tão bom dizer adeus...)"

“No princípio era o verbo”, e muitos alunos iniciavam seu curso apenas com vontade de aprender um pouco mais sobre a Língua Portuguesa e sua literatura. Lecionar não era o foco.

Mas, como a morte é uma certeza para a vida, o estágio é uma certeza para o graduando. O estágio chega, e como de um parágrafo para o outro, lá estamos nós em uma sala de aula... E muitos até então carregavam suas experiências de seminário no curso da faculdade.

Para tanto, outros construíam seu aprendizado como um sonho, um propósito de vida, e cada tarefa vivenciada realmente carregava a preocupação profissional.

Ney César Chagas, graduando em Letras, professor de inglês e observador dos detalhes do mundo, comparou criativamente o impresso do relatório de estágio com um filho:

"Longo foi o período de gestação dessa gravidez indesejada.
Muitos foram os momentos de complicação... Achei que não iria aguentar o peso de tanta responsabilidade, e para agravar mais a situação, muito sofrido foi o trabalho de parto.
Enfim, eis que é chegado o grande dia: exatamente às 16h do dia 24 de setembro de 2009 pude carregar meu bebê nos braços - mal me cabia de contentamento. No entanto, me perguntava: o que fazer com ele agora?
Sem hesitar, o deixei com uma mãe adotiva – a orientadora de estágios da faculdade.
Espero que seja uma criança saudável e que a deixe muito feliz."

“Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, e Silmara Vanessa dos Santos, graduanda em Letras e amante de discussões filosóficas e literatura, acredita que, por fim, todo trabalho realmente resultou positivo:

"Enfim! Valeu a pena! Em meio a tantas coisas ditas nas salas de aula, sala dos professores e além muros da escola, a Escola não é uma instituição falida como muitos pregam. Nos ideais difundidos em nós estudantes de letras grita uma voz que impele a ensinar, a contar a historia da humanidade presente na literatura, uma voz que se impõe como o chamado do profeta: “Ai de mim se não o faço! Como escapar de ti? Como calar se tua voz me queima dentro”."

Se “no princípio era o verbo”, então já agora existe a certa e consciente reflexão que o princípio é importante, mas estamos a cada momento tendo novos princípios, e se este é o propósito de existir, agradecemos, afinal, todo estágio revela mudança.

A parte, bem sabemos que a vida seria mais simples se fosse como deveria ser: buscar conhecimento, com amor, respeitando quem somos e respeitando os demais. Existe sempre uma correria acontecendo lá fora, e existem muitas mágoas, muitas disputas. Aprender estas duas faces do mundo, aprender com os alunos do estágio, e ao mesmo tempo ensinar, é de valor imenso!

Mas, como todo valor, aquilo que realmente importa precisa ser trabalhado, e Susana Chaves, graduanda em Letras, sutilmente nos mostra que todo esforço realizado um dia tem maior resultado quando existe um propósito: 

"Foram dias, horas, minutos segundos de ansiedade para ver o relatório findo! Passei por angústia, choro, desespero, insônia

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