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Publicado: Segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Sexagenária, eu?

Crédito: Domínio Público Sexagenária, eu?

- Quantos anos você faz? – Perguntou-lhe a vizinha.

- Cinquenta e sete – respondeu-lhe a mulher, prestando a mesma informação dos últimos três anos.

 

Revelar a idade não era apenas uma questão de caráter público. Era de caráter privado, de foro íntimo – intimíssimo.

 

Ela já notara o cuidado dos amigos ao citar alguém como idoso - já pelos 60 anos - e que ao olharem para ela, rapidamente minimizavam o comentário. Constrangedor.

 

Na semana que antecedeu o “evento”, ela quase surtou.

- Será que não estou muito velha pra usar essas roupas? E os sapatos?

- Preciso ser mais comedida? Menos entusiasmada?

Chegou a empilhar os curtos vestidinhos, blusas tomara-que-caia e sandálias de salto XV, para doação.

 

Naquele dia - o fatídico – a saia apertada na cintura sinalizou o aumento de peso.

- Droga! - Resmungou, vestindo qualquer coisa e saindo apressadamente para adquirir uma balança.

- Ninguém pode viver sem isso, pensou, instalando o artigo no banheiro, bem á vista, não sem antes conferir o estrago.

-Três quilos e meio! Ninguém merece!

 

Decididamente foi até o quarto. Arrancou todas as roupas e se aproximou do enorme espelho na parede.

- Aqui está meio molinho...

- Um tanto enrugado desse lado...

- Hum! Isto está quase bom...

- Essa parte parece ótima! – Observou, virando o corpo. E é tudo original.

 

Chegou mais perto para analisar minuciosamente o rosto, fazendo uma sucessão de caretas.

- Duas rugas de expressão na testa...

- Finíssimos linhas sob os olhos...

- Não está mal, concluiu, depois da investigação.

- Mas quem, em sã consciência, dirá que alguém com sessenta anos não é muito velha?

 

O acaso deu-lhe a resposta, alguns dias depois.

 

- Gostosa!!!!!!!! – Disse-lhe o desconhecido, ao passar por ela.

Quase voltou para beijá-lo.

 

- Sessenta anos? Que venha os setenta – desafiou – empinando os peitos e batendo os altíssimos saltos na calçada.

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