Sexagenária, eu?
- Quantos anos você faz? – Perguntou-lhe a vizinha.
- Cinquenta e sete – respondeu-lhe a mulher, prestando a mesma informação dos últimos três anos.
Revelar a idade não era apenas uma questão de caráter público. Era de caráter privado, de foro íntimo – intimíssimo.
Ela já notara o cuidado dos amigos ao citar alguém como idoso - já pelos 60 anos - e que ao olharem para ela, rapidamente minimizavam o comentário. Constrangedor.
Na semana que antecedeu o “evento”, ela quase surtou.
- Será que não estou muito velha pra usar essas roupas? E os sapatos?
- Preciso ser mais comedida? Menos entusiasmada?
Chegou a empilhar os curtos vestidinhos, blusas tomara-que-caia e sandálias de salto XV, para doação.
Naquele dia - o fatídico – a saia apertada na cintura sinalizou o aumento de peso.
- Droga! - Resmungou, vestindo qualquer coisa e saindo apressadamente para adquirir uma balança.
- Ninguém pode viver sem isso, pensou, instalando o artigo no banheiro, bem á vista, não sem antes conferir o estrago.
-Três quilos e meio! Ninguém merece!
Decididamente foi até o quarto. Arrancou todas as roupas e se aproximou do enorme espelho na parede.
- Aqui está meio molinho...
- Um tanto enrugado desse lado...
- Hum! Isto está quase bom...
- Essa parte parece ótima! – Observou, virando o corpo. E é tudo original.
Chegou mais perto para analisar minuciosamente o rosto, fazendo uma sucessão de caretas.
- Duas rugas de expressão na testa...
- Finíssimos linhas sob os olhos...
- Não está mal, concluiu, depois da investigação.
- Mas quem, em sã consciência, dirá que alguém com sessenta anos não é muito velha?
O acaso deu-lhe a resposta, alguns dias depois.
- Gostosa!!!!!!!! – Disse-lhe o desconhecido, ao passar por ela.
Quase voltou para beijá-lo.
- Sessenta anos? Que venha os setenta – desafiou – empinando os peitos e batendo os altíssimos saltos na calçada.