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Publicado: Quarta-feira, 9 de abril de 2008

Será que somos invisíveis?

Crédito: www.midiaindependente.org/.../11/401550. Será que somos invisíveis?
"Vivemos num mundo de invisíveis"
Deitado na calçada encostado ao muro de uma casa está um homem de meia idade, esticado em meio a algumas sacolas já surradas pelo manuseio, usando roupas de inverno embora esteja fazendo muito calor e o Sol esteja aquecendo todo seu corpo.
 
Pessoas passam para lá e para cá.
 
Algumas olham e balançam a cabeça pré-julgando ser um bêbado que provavelmente foi expulso do convívio familiar. Outras passam tão envolvidas em seus próprios problemas que nem percebem a presença do homem.
 
Logo passa uma senhora trazendo pela mão um pequeno menino. Não deve ter mais do que três anos e caminha correndo, com suas pernas curtinhas, tentando acompanhar o andar lento de sua mãe. Ela o puxa na intenção de passar o mais longe possível daquele homem e ele, somente ele, o menino, se detém mais do que um segundo observando a pessoa que está ali deitada.
 
Sua mãe olha para o lado oposto encenando não tê-lo visto e o menino continua andando, agora com seu corpo totalmente virado para trás apontando seu minúsculo dedinho para o homem que continua dormindo sem perceber nada o que acontece ao seu redor.
 
A mãe então o pega no colo e sai com passo apertado sem nada dizer ao pequeno.
 
Todos que por ali passaram, olharam aquele homem, mas ninguém o viu.
Na verdade, somos todos invisíveis. Insignificantemente invisíveis.
 
Em razão da vida agitada e da violência não enxergamos mais ninguém. Ao vermos alguém caído no chão aceleramos o passo, pois pode ser uma estratégia de assalto. Ao ouvirmos alguém gritar por socorro, ignoramos, assim não precisaremos socorrer com medo de cair numa nova cilada.
 
Quando algum desconhecido toca a campainha da nossa casa, dificilmente atendemos com medo de sermos assaltados.
 
Sabemos que normalmente as vítimas são pessoas de bom coração. Que por se disporem a ajudar, acabam se tornando presas fáceis. Diante de tudo isso, o bom coração está se enrijecendo.
 
É esta a realidade que passamos a viver. Não acudimos ninguém, não socorremos ninguém, não atendemos ninguém, não enxergamos ninguém.
 
Vivemos num mundo de invisíveis.
Somente os “bandidos” se fazem visíveis.
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