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Publicado: Quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sem hora para acabar

Eu não falei pra vocês que o Natal vinha vindo, com uma rapidez que jamais teve. Fora como se o tivessem lançado ladeira abaixo. Chegou de pronto. Isto lhes passei ainda em setembro, outubro.

Impressiona cada vez mais o ritmo imposto a homens e mulheres, à humanidade diga-se, através do amontoado de afazeres somados a novidades, que não param. Iria você ao shooping hoje ou amanhã adquirir "aquele" celular? Não vá. Em janeiro vai existir cada lançamento que você nem imagina. Ainda bem que cuecas não mudam quase nada e que não são como camisas e vestidos de lançamento contínuo, a deixar superadas aquilo comprado ontem. Vestidos então, nem falar. Apesar de que ver meninas e mesmo senhoras de saia ficou bem raro.

Nesse atropelo vai de roldão também a qualidade do relacionamento e das amizades, muito truncados, sem tempo de se conceder a outrem a atenção que mereceria. Raramente - salvo por interesse - se consegue estabelecer os vínculos de outros tempos.

Olhem só que história curiosa. Na última noite da Semana Literária no Plaza, promoção da ACADIL, um simpático jovem de seus... digo assim menos de cinquenta anos, pára na minha frente e me abraça, com efusivo calor. Não o reconheci. Decorreram trinta anos. Colega, mais que isso, amigo mesmo no modo antigo, mas que se mudara para sua cidade natal. Nossa, que lonjura! Ele é de Porto Feliz!!!

Divido com ele a responsabilidade desse descuido. Como pudemos morando próximos nos distanciarmos tanto. Ah menino, vem cá daqui pra frente que cuidarei também de o visitar mais vezes. Que alegria. Era tamanho o prazer, que nos quedamos silentes por um tempinho, quase sem palavras - pura emoção.

Gente. Não é frescura. Amizades eram amizades. Gostava-se mutuamente e havia prazer em conviver e ser útil, inclusive ceder a vez em alguma circunstância. O bem do outro era primeiro a alegria nossa.

Mal maior acontece com os pequeninos, os pais de hoje envolvidos pela precipitação e pela pressa que não vai levar absolutamente a uma paz verdadeira. Valores - nem se falar - estão soterrados.  Concessões de tempos novos, viram normalidade e perpetram-se aberrações que outrora nem concebidas seriam.

Transcrevi não faz tempo aqui uma carta - que circulou por aí na forma de e-mail - daquele professor mineiro que vivera os tempos bons de quando familias (inteiras, pais, filhos, avós), se visitavam em meio a conversas infindáveis. Esse professor dizia que tudo acabara e que agora ele era feliz do jeito moderno, ele e seu computador. Não recebia ninguém nem tinha para onde ir.

Taí!  A informática torna frente à frente pessoas queridas, uma de cada lado do mundo. Realiza o prodígio de eliminar distâncias, quais sejam. A informática também o prende a uma cadeira e o impede de se aproximar do calor humano do semelhante, vivo e presente. Quiçá, vizinho seu. Por sinal que, fale sinceramente: Conhece o vizinho? Sabe-lhe o nome?

Ah, me digam: existe algo mais agradável do que uma um papo sem hora marcada para acabar?

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