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Publicado: Quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Ralouín Tupiniquim: Modinha Incoerente

Crédito: Internet Ralouín Tupiniquim: Modinha Incoerente
No Brasil o Ralouín ainda só serve para cultuar figuras amaldiçoadas.

Está em voga, faz alguns anos, uma modinha dessas importadas e serenamente engolidas com falta de raciocínio por uma considerável parcela de brasileiros. Trata-se da adaptação tupiniquim aos festejos do Halloween, mais comum nos EUA. O brasileiro mediano tem a ingrata mania de desvalorizar tudo quanto brota em solo pátrio, dando mais valor a tudo o que vem de fora do seu universo cultural próprio. Tal mentalidade é uma verdadeira praga a alimentar a nossa síndrome de vira-lata: se é do Brasil, não presta, não serve, melhor jogar fora.

Em primeiro lugar, há que considerar que o Ralouín não é da cultura brasileira mas dos povos anglo-saxônicos. É claro que, graças à influência cultural exercida mundo afora, os brasileiros acabem incorporando alguns elementos culturais do american way of life (estilo de vida americano). Mas é necessário saber que há exageros e interesses econômicos nessa forçação de barra no que se refere a fazer do Ralouín uma festividade obrigatória no calendário nacional.

No que tange aos interesses econômicos, basta verificar a muvuca da Rua 25 de Março, na capital paulista, o maior conglomerado comercial da América Latina. Logo após a festa do Dia das Crianças as vendas ficam todas concentradas no Ralouín, como se fora um Carnaval fora de época. Essa modinha começou há certo tempo, através das escolas de inglês. Depois as escolas bilíngües também adotaram esse esquema. Até aí é compreensível. Para o aprendizado do idioma estrangeiro é necessário conhecer sobre os costumes e tradições do país visado.

A praga é que agora todas as escolas, principalmente as particulares, enfiam goela abaixo dos alunos o tal do Ralouín. Até mesmo nas escolas públicas essa modinha está começando a se tornar comum. Se praticássemos a coerência pedagógica, teríamos no Brasil o nosso próprio Ralouín Tupiniquim e as crianças exaltariam figuras como o Saci-Pererê, a Cuca, o Corupira e até mesmo vultos históricos como Tiradentes, Dom Pedro I, Anita Garibaldi, etc.

Outro aspecto a salientar é que o Halloween adaptado ao Brasil é capenga e ridículo, tanto quanto  querer fazer no Brasil um Santa Claus (Papai Noel) de bermudas, chinelos e camiseta regata. Nos EUA o Halloween é o verdadeiro carnaval para os norte-americanos. Nessa festa, no que se refere às fantasias, há uma variedade enorme delas. As roupas não se restringem a imitar figuras sobrenaturais. As crianças se vestem de extraterrestres, de figuras históricas, de ídolos pop, de animais, de qualquer outra coisa que a criatividade mandar. E fica tudo muito bacana, pois os festejos não se resumem à pauta do Dia das Bruxas.

Em solo tupiniquim, não sei se de propósito, o Raoluín ressalta apenas o aspecto das figuras demoníacas. As crianças se vestem de vampiro (espírito amaldiçoado que chupa o sangue e mata suas vítimas), de zumbi (espírito amaldiçoado que come carne de humanos vivos, principalmente o cérebro), de diabo (o pai da mentira e do orgulho, inimigo de Deus), etc. Alguém pode achar tudo isso uma grande bobagem, mas não me deterei aqui em analisar o aspecto das influências malignas em torno dessas figuras. Só sei que, no meu cotidiano, acabo orientando diversas mães e pais aflitos porque não querem aderir ao Ralouín fantasiando seus filhos com essas figuras do mal.

Para termos um Ralouín Tupiniquim mais autêntico poderíamos, então, abrir o leque no que diz respeito às fantasias e usar a criatividade brasileira, tão vista no Carnaval, também para essa ocasião. Certamente ganharíamos no quesito originalidade. Afinal, por qual motivo as crianças não podem ser fantasiadas de São Miguel Arcanjo, E.T. ou José Sarney?

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