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Publicado: Domingo, 30 de maio de 2010

"Ser o melhor do mundo, ou melhor para o mundo?"

"Ser o melhor do mundo, ou melhor para o mundo?"
A diferença está no propósito de vida de cada um

É sempre assim: as palavras começam a sacudir e como “damas desvairadas” impõem o tom, o ritmo e o tema da minha próxima crônica. Por mais que eu tente manobrá-las com argumentos fortes e consistentes, não tem jeito: elas têm vida própria!

Por isso, mais uma vez retomo a linha temática e me exponho insuportavelmente repetitiva.  Não escrevo prá mim... Na verdade, se as “damas palavras”, as que moram em mim, me permitissem, não escreveria uma única linha...  O escritor é um homem pelado. A cada palavra escrita, um eu interior à mostra.

Por conta da vida profissional tenho andado por esse Brasil e observado as relações pessoais, principalmente as existentes nas escolas dos nossos meninos. Ainda que muito se possa fazer profissionalmente, focando a melhoria das práticas pedagógicas, estou convencida de que há uma “porta secreta” na formação profissional que só se abrirá, única e exclusivamente pela vontade pessoal e subjetiva, com chaves esculpidas pelas finas mãos das senhoras ética e moral. E é essa a porta que dá acesso ao sucesso profissional.

Acompanho experiências de gestores educacionais e nelas comprovo que apesar da sistematização e padronização de processos, do aprendizado nos mesmos cursos e treinamentos, nem todas alcançam o alto desempenho. Por quê? Onde está a diferença?

A diferença está no propósito de vida de cada um. Não importa a profissão escolhida ou a função desempenhada, nela depositamos as nossas marcas, estampadas com o que de fato compreendemos, acreditamos e desejamos da vida, das pessoas, das relações e de nós mesmos. 

É no fazer diário, no gesto pedagógico e nas relações profissionais que dizemos aos outros, aos nossos alunos ou à nossa equipe, se desejamos de fato estar onde estamos. É na integração entre o pensar, sentir e agir que expressamos o desejo de “ser o melhor do mundo, ou melhor para o mundo” (quem foi mesmo que disse isso?). É na conversa diária, nos diálogos e nas orientações pedagógicas aos pais, professores ou funcionários, que revelamos se estamos verdadeiramente curiosos ou interessados no outro. Sim, porque uma linha tênue separa o interesse da curiosidade; é algo intangível, mas existe.  E o outro percebe, pois quando estamos interessados é em seu favor, e quando estamos apenas curiosos, é em nosso benefício, para o nosso próprio interesse.

Para liderar uma equipe é preciso estar um passo à frente, como disse Gandhi. Mas não em títulos acadêmicos ou em vaidades pessoais ou, ainda, como na maioria dos chefes, por detenção do poderio econômico. É preciso um passo à frente no domínio das habilidades necessárias para a condução das relações pessoais. É preciso saber a diferença entre aceitar e compreender; ouvir e escutar; falar e silenciar.  É preciso entender que empatia não é o mesmo que simpatia e que respeitar o outro significa tratá-lo como igual, o que não quer dizer concordância de pensamento ou sentimento. Pelo contrario, trata-se da atitude segundo a qual o outro tem tanto direito quanto eu a idéias, sentimentos e valores próprios. Como diz Alfred Benjamim, meu autor de cabeceira, “é querer fazer o máximo possível para entender o espaço vital do outro em termos de suas idéias, sentimentos e valores e não conforme as minhas”.          

E por incrível que pareça, os tantos anos de investimento acadêmico, absolutamente necessários, não farão nenhuma diferença para o sucesso profissional, sobretudo se optamos pela função gestora, se não cuidarmos dos nossos propósitos de vida, das nossas escolhas e, fundamentalmente, da disposição em humanizar a essência das relações pessoais.

Difícil, certamente. Mas se almejamos um jeito melhor de fazer escola, mais humano talvez, significativo e, sobretudo, eficiente e eficaz, precisamos, como diz minha querida Lya Luft, “arriscar: trazer esses nossos enganos até o chão da realidade, remover suas máscaras e suas místicas, e escolher, com audácia se for preciso, que portas vamos abrir ou ignorar” em nossa atuação profissional.

 

 

 

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