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Publicado: Sexta-feira, 5 de maio de 2006

Protestantes no Poder?

Por razões ecumênicas prefiro sempre usar as expressões “igrejas evangélicas” e “dos crentes”, em lugar de Igrejas Protestantes, expressão que nos lembra os tempos das rupturas e desencontros cristãos no século XVI. Nós católicos também somos evangélicos e crentes de pleno direito. Herdamos os Evangelhos autênticos do século I e os passamos de geração em geração. Todos somos profundamente crentes em Deus Criador Uno e Trino.

Com a proximidade do período pré-eleitoral, urge levar em conta que seremos governados por aqueles que escolhermos por mais quatro anos. Não nos iludamos. Há alguns meses os protestantes empenham-se na indicação de seus candidatos, geralmente “bispos” e “pastores” das várias igrejas.

As comunidades evangélicas maiores, praticamente já escolheram os candidatos em que os fiéis deverão votar. Não se trata de uma simples orientação dos votos, pois seus eleitores são seguidos de perto para o cumprimento do “dever” de votar nos que foram indicados e que espalham-se pelos mais diversos Partidos, não somente no Partido Liberal mas agora também no Partido Renovador Municipalista.

As maiores Igrejas pentecostais, entre elas a Universal do Reino e a Assembléia de Deus, já definiram candidatos de sua inteira confiança. As Igrejas históricas – Luterana, Presbiteriana e Metodista – também terão seus candidatos. Há quatro anos foram eleitos 62 deputados federais e 3 senadores, constituindo uma bancada evangélica que obteve não poucas vantagens do Governo Lula.

O assunto merece mais de um artigo e é o que vamos fazer nas próximas semanas. Não mereceria este espaço se o objetivo dessa movimentação evangélica não fosse a conquista do poder pelo poder, em benefício de cada Igreja em particular e de todas em geral, situando em segundo plano o serviço e o bem-estar do povo mais carente.

Em geral o eleitorado e os líderes partidários estão iludidos com a “força” política dos evangélicos. Se é verdade que no último Censo eles chegaram a aproximadamente 25 milhões, não é menos verdade que estão divididos e talvez metade deles sejam crianças e adolescentes, não eleitores. Restam cerca de 13 milhões de eleitores protestantes, separados entre pentecostais – mais numerosos – e históricos, que nem mesmo se unem nas suas Igrejas e em torno do próprio Cristo.

Hoje o eleitorado brasileiro é calculado em cerca de 120 milhões de eleitores e o Brasil conta com aproximadamente 140 milhões de católicos, também eles separados em diversos Partidos e desunidos entre si. Desses pelos menos 40 milhões são crianças e adolescentes. É preciso não se iludir com a “força” de uns nem com a de outros. A maioria dos católicos votará em candidatos católicos, assim como a maioria dos evangélicos votará em candidatos evangélicos. Matematicamente, deverão ser eleitos mais candidatos católicos do que não católicos.

Mais preocupante é o empenho total de Anthony Garotinho, protestante e ex-Governador do Estado do Rio de Janeiro, que vem investindo uma fortuna - sabe-se lá vinda de onde - na campanha pré-eleitoral. Além dele há o “bispo” Marcelo Crivella, senador da Igreja Universal do Reino de Deus, que colocará os próprios recursos e os de sua Igreja para tentar eleger-se ao menos Vice-Presidente da República. É o seu sonho e o da IURD.

Lá por agosto já teremos o quadro dos candidatos e suas reais possibilidades diante dos eleitores. Em outubro eles estarão eleitos em primeiro ou segundo turno. Preocupa não pouco uma quase impossível eleição de Garotinho, cuja experiência administrativa é inegável e cujo empenho é total, tendo atrás de si a própria esposa Rosinha Matheus, atual Governadora do Rio de Janeiro. Aliás, é um dos Estados brasileiros em que os não-católicos mais avançaram nos últimos trinta anos.

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