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Publicado: Sexta-feira, 5 de abril de 2019

Por uma nova grafia do alfabeto português

      O jovem aluno estrangeiro já havia aprendido o alfabeto português, sua grafia escrita e seus sons falados. Então, o professor resolveu testar os alunos com um ditado, lendo um texto em voz alta. E o aluno escreveu:
      “O padri estava tristi pois havia caído a istrela da torre da igreja. Sem recursus para consertar u danu, eli pidiu uma ismola para sua gentchi, que decidil colaborar com deiz reais cada. O padri, então, agradecel a oportunidadji e abençoou seu rebanhu.”
      As palavras foram escritas reproduzindo exatamente os sons pronunciados pelo professor, que imediatamente “corrigiu” todos os erros do aluno. Mas, que língua estranha esta, cuja grafia é tão diferente do som das palavras! O “o” virou “u”, o “e” se transformou em “i”, o “u” passou a ser “l” e muitos “j” e”x” foram enxertados nas palavras faladas.
       As teorias sobre a evolução da linguagem não são conclusivas, dada a complexidade do tema e a falta de evidencias diretas dos nossos ancestrais que viveram há milhares de anos. Algumas ideias podem fazer sentido nesta busca:
• As primeiras palavras foram imitações dos gritos de animais e pássaros;
• As primeiras palavras foram expressão de prazer, dor, surpresa, etc.;
• A linguagem emergiu do trabalho coletivo, sincronizando o esforço muscular;
• Todas as coisas têm uma ressonância natural, que ecoaram no homem em suas primeiras palavras.
• Os humanos fizeram as primeiras palavras por movimentos da língua que imitavam os gestos manuais.
      Gestos, grunhidos, imitação da natureza, sons maternais, tudo pode ter ajudado a criar a identificação dos sons com os significados, primeiro dentro das famílias, até se expandir para a comunidade. Além disso, a evolução do cérebro e da laringe dos hominídeos resultou no processo humano de articular, unir, juntar, proferir, pronunciar com distinção e clareza as palavras. Mas se a evolução da humanidade permitiu alcançar um nível alto da linguagem, como explicar a deterioração dos sons observada em muitas falas do português, especialmente daquele falado no Brasil?
      A pronúncia das letras do alfabeto varia de idioma para idioma. No português trazido de Portugal os sons correspondem à grafia das letras, porém, dados os regionalismos, diferenças são notadas nas várias pronúncias dentro do país, o que é natural para uma língua viva. O que não é natural é a deturpação dos sons motivada pela falta de educação formal. É a escola que fracassou na missão de desenvolver as habilidades dos alunos. É um relaxamento dos hábitos da fala, da escrita e por ainda, do pensamento. Assim, grandes contingentes da população usam uma linguagem distante do original e disseminam a praga mais do que a escola tenta ensinar corretamente.
       E agora, o que fazer? Mudar a grafia das letras para igualar os sons da fala? Ou insistir na educação esmerada para retomarmos os sons corretos? Parece que teremos que voltar a aprender com os primeiros homens que habitaram a Terra, um retrocesso forçado para curar a epidemia de ignorância que assola o país.
 

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