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Publicado: Segunda-feira, 27 de junho de 2011

Pitzas & pitzas

—Se se come ou não uma boa pitza em Nápoles, eu tenho dúvidas, aliás, eu duvido de tudo aquilo que não conheço e, pelas informações que tive de amigos, a pitza italiana só tem o nome porque o sabor mesmo perde muito para a da minha pitzaria.

Quem assim falava era o João, dono da mais versátil pitzaria da cidade, a PITZAS & PITZAS.

O João apostava nas novidades e como o seu potencial de criatividade era inesgotável, passou a apelar para os mais exóticos, para não dizer absurdos, sabores, de quiabo, chouriço, mandioquinha... Com molho vermelho, branco, rosé, amarelo, roxo...

Se você chegasse a sua pitzaria e pedisse pitza de fígado de jacaré, ele não tinha, mas prometia incluir em seu cardápio, só para satisfazê-lo, mesmo que nenhum outro freguês quisesse experimentá-la.

O garoto chega com os pais e ocupam uma mesa.

O garçom aproxima-se solícito e pergunta se vão querer o rodízio e o que preferem para beber.

O menino pede:

—Eu quero pitza de ovo frito.

O garçom fica meio indeciso, mas o João que sempre está de olho em tudo que se passa a sua volta reponde por ele:

—Pois não! A nossa pitza de ovo frito é excelente!

E lá vai o garçom providenciar um ovo frito em cima de uma massa para o freguezinho.

Dito atende ao telefone e anota as encomendas para serem entregues a domicílio:

—Manda-me uma grande, metade calabresa com tomate seco e sem cebola, metade napolitana com bastante queijo sem pimenta.

—Pois não. Será entregue em meia hora. Obrigado!

—Uma pequena, metade carne moída...

—Desculpe, as pequenas só podem ter um sabor.

Ela finge não ouvir

—Carne moída, bacalhau, quatro queijos, frango com milho verde e catupiri.

—Não é possível. As pitzas são padronizadas, a senhora tem que escolher um dos sabores que constam do cardápio.
—Que absurdo! Vocês põem na propaganda que servem a
o gosto do freguês e na hora H não é nada disso? Eu vou reclamar no Serviço de Proteção ao Consumidor.

O rapaz fica atrapalhado sem saber o que dizer e resolve chamar o patrão.

—Alô aqui é o João

—Aqui é a Anabela...

—Olá, Dona Anabela, como vai à senhora? Em que posso servi-la?

—Eu queria encomendar uma pitza e seu empregado se recusou a anotar minha encomenda.

—Mil perdões, dona Anabela, eu vou adverti-lo, talvez até demiti-lo. Vou providenciar imediatamente sua encomenda. Obrigado! Mais uma vez, desculpe!

Desliga e chamo o Dito:

—Você devia ter aceitado a encomenda.

—Mas como se as pitzas pequenas não podem ter mais do que um sabor?

—Você precisa ter malícia. Pegasse a encomenda e não mandasse nada.

—E quando ela reclamasse?

—Jogaria a culpa no motoqueiro. Diria que íamos providenciar novamente com mil desculpas.

—E se ela reclamasse de novo?

—Com certeza não reclamaria. A essas alturas já teria resolvido comer outra coisa.

Mas o pior mesmo foi quando aquele senhor idoso, obeso, diabético sentou-se a mesa e pediu um rodízio completo, queria experimentar todos os sabores disponíveis, acompanhado de um vinho, o melhor que houvesse.

Como era de se prever o homem passou mal, vomitou em cima da mesa, os outros fregueses se afastaram e o João ainda teve que levá-lo ao Pronto Socorro.

O médico pergunta:

—O que você acha que pode ter-lhe feito mal.

—Ah! Foi a pitza de amendoim com óleo de rícino que comi na Pitza & Pitza.

O vigilante sanitário solicitado pelo médico interroga o João:

—Como é que o senhor serve pitza temperada com óleo de rícino?

—Foi o freguês que pediu.

—Eu? Não! Eu pedi óleo de oliva

—Não! O senhor disse óleo de rícino.

—Bem... Talvez eu tenha me enganado no falar...

O João teve seu estabelecimento fechado para averiguação e só mediante uma polpuda multa conseguiu licença para retomar sua atividade, já então oferecendo aos fregueses as pitzas tradicionais, nada de sabores exóticos.

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