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Publicado: Domingo, 21 de fevereiro de 2010

Pensar é necessário

Pensar é necessário
As ações nascem do pensamento...

Outro dia uma leitora me abordou na rua para dizer que sente falta dos meus textos críticos, políticos e quase agressivos, publicados no jornal. 

Confesso: sinto falta, também. Incomodada, busquei as palavras escritas no passado e as reli pacientemente... Tentava, nesse gesto, reencontrar a energia crítica, política e polêmica daquela época.

Arrisquei algumas hipóteses para justificar a inércia dominante. Maturidade? Falta de tempo? Falta de assunto, quem sabe? Não, não é falta de tempo ou de assunto. Aliás, em muitas situações a crítica política se fez pronta e presente em minha mente, sem dali nunca sair. Foram muitas às vezes em que desviei meus pensamentos das palavras engasgadas no peito.

O fato é que não tenho mais vontade de comungar algumas ideias, porque perdi a esperança. Já não acredito mais na transformação coletiva: os textos políticos e polêmicos eram aquecidos pelo ideal de mudar o mundo. Desejava que as palavras publicadas, naquele jornal, ajudassem a fazer um mundo mais justo, mais sério e humano. 

Hoje compreendo a ingenuidade da intenção. Não mudamos o mundo. Talvez, e isso é muito, as palavras possam inspirar pessoas para que pensem um pouco mais sobre o seu próprio mundo.

Pensar incomoda, demanda tempo e coragem. Nesse mundo de pressa sem fim, de ambição material e compromissos exagerados, quem tem tempo para pensar? Quem tem tempo para ler as entrelinhas? Prestar atenção naquilo que não foi dito? Sentir as palavras que nos falam? Sentir, isso mesmo: as palavras têm sentimentos. Rubem Alves diz que “todas as palavras tomadas literalmente são falsas. A verdade mora no silêncio que existe em volta das palavras.”  

Essa falsa ilusão de que podemos fazer tudo, controlar as pessoas e as suas funções à distância, pelo celular ou pela internet, tem comprometido a qualidade das ações e das relações. E mais ainda, tem nos impedido de pensar.

Pensar é dar sentido às ações. É compreender o “como”, o “porque” e o “para que” da vida pessoal e profissional. É alimentar o ciclo: sentir, refletir e agir. Não há mudança de atitude sem a promoção de novas maneiras de pensar. As ações nascem do pensamento, guiadas pela razão e pela emoção. Na maioria das vezes, esse mecanismo é inconsciente: fazemos ou falamos coisas porque construímos a própria maneira de pensar e determinamos para a realidade, que é assim que deve ser.   

Não é à toa que muitos projetos de mudanças fracassam nos seus objetivos. Seguem a mesma linha das obras de autoajuda: faça isso, mude aquilo, feche os olhos, respire fundo, visualize assim... São frases diretivas que só ajudam, de fato, quem as inventou. Não se muda o jeito de pensar e, consequentemente, de agir por decreto.

As escolas deveriam preservar espaços para pensar. Neles, as ações teriam sentido e a função “tarefista” deixaria de existir. Fico perplexa com a quantidade de tarefas executadas pelos alunos. São folhas e folhas de livros e cadernos consumidas para a reprodução de um conhecimento que precisa ser questionado, refletido, compreendido.

Como disse recentemente a minha querida escritora Lya Luft, é hora de “largar mão, por alguns instantes, dos compromissos, do cansaço, da falta de tempo, da dificuldade em ser feliz, da pouca harmonia consigo e com o mundo, das tragédias, das decepções universais ou pessoais – e dar-se o prêmio de pensar”.

Pensar é necessário.

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