Paráfrase

 ‘’Você fala bem, só falta ter algo pra dizer’’, cita Eva Katchadourian, personagem do livro ‘’Precisamos falar sobre o Kevin’’.

Seria a paráfrase uma figura de linguagem egoísta? Talvez seja ela o retrato da falta de expressão, pois, na ausência de palavras próprias para descrever um sentimento, o narrador usa as palavras de outra pessoa. Afinal, há sentimentos iguais?

Pode ser que o indivíduo tenha tanto pra falar mas com palavras não saber dizer, assim como o Rei. Seria justo nesse caso?

Outro fator a se levar em conta é que o tempo usado para elaborar um texto às vezes é medido. Então, o colunista, jornalista, cronista, pressionado a entregar seu trabalho quando lhe é solicitado, não consegue elaborar com suas palavras a idéia que deseja transmitir. E, como ‘’o tempo não para’’, ele se permite apropriar-se de palavras já escritas, e eventualmente já eternizadas, para poder resumir.

Um aspecto interessante da paráfrase na Era Digital é a maneira com que as frases ganham autores. Visualize um pouco o feed da sua rede social e talvez perceba o que quero dizer. Uma frase como o exemplo: ‘‘Bebo pra ficar ruim, se fosse pra ficar bom tomava remédio” é creditada a Clarice Lispector ou Caio Fernando de Abreu. Seria cômico, se não fosse trágico.

Não sei. Aliás, só sei que nada sei. Faz o que tu queres pois é tudo da lei.

Existe uma ocasião em que se apropriar de uma fala pode não ser considerado um pecado. Quando eu não sei quem citou as palavras que pretendo usar, até porque, o criador original pode também ter roubado. E, ‘’ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão’’.

Enfim, dizer o que vale ou não, não compete a ninguém. Tanta gente que parafraseia sem parafrasear... Nesse meio da escrita, ‘’se gritar ‘pega ladrão’, não fica um, meu irmão’’.

E digo mais, aliás, o Gil, célebre personagem futebolístico diz mais: “Vale tudo, só não vale dar o...!”