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Publicado: Quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Palavras da verdade

Palavras da verdade
Ninguém conhece mais as palavras da verdade do que as crianças: dizem do que sentem e pronto.

Diz o poeta que a palavra é a música do coração. De fato, mas não todas. Somente as palavras da verdade. Palavras da verdade são aquelas que tocam o coração. Ninguém as conhece mais do que as crianças: dizem do que sentem e pronto. São felizes. 

Tristes somos nós que já crescemos. Trocamos as palavras da verdade pelas da mentira. Palavras da mentira são aquelas que dizem o que o outro quer ouvir. E nos enganam: passamos a acreditar no que falamos. Talvez por isso Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, tenha dito: “Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim”. 

Marina Colasanti, escritora reconhecida por traduzir em sua obra os fatos cotidianos, a situação feminina, o amor, a arte, os problemas sociais brasileiros, sempre com aguçada sensibilidade,  publicou em seu livro “A casa das palavras” o resultado de um jogo realizado com crianças na escola. Nele, as crianças foram convidadas a dar o significado de algumas palavras, na maioria por elas próprias escolhidas. Como são crianças, disseram as palavras da verdade e muito nos ensinaram. Vale conferir: 

Dinheiro: É o fruto do trabalho, mas há casos especiais. (Pepino Nates, 11 anos) 

Igreja: Onde se vai para perdoar Deus. (Natalia Bueno, 7 anos) 

Mãe: A mãe é a pele da gente. (Ana Milena Hurtado, 5 anos) 

Amor: É o que cada coração junta para dar a alguém. (Lina Maria Murillo, 10 anos) 

Deus: É o amor com cabelo comprido e poderes. (Ana Milena Hurtado, 5 anos) 

Ausência: É que eu vou morrer. (Yorlady Rave, 8 anos) 

Lar: O lar é alguma coisa que de repente se separa. (Juliana Escobar, 10 anos) 

Medo: É que a minha mãe dirige um carro e uns senhores do viaduto não podem comer e quebram o vidro do carro e matam ela e matam meu pai e eu vivo sozinho. (Orlando Vásquez, 6 anos) 

Nascer: É um momento que temos quando somos pequenos. (Wilson Taborda, 11 anos) 

Tranquilidade: Por exemplo, que o pai diga que vai bater e depois diga que não vai mais. (Blanca Helao, 10 anos) 

E assim, com essas poucas palavras, a lição ensinada pelas crianças se multiplica: além do compromisso com a verdade, dita com tanta honestidade, revela a mais cruel das constatações: em nome da maturidade, perdemos a liberdade de quem não precisa se preocupar com a imagem, com a política, com o network, com a hipocrisia e com o que “os outros vão pensar.” 

Tristes e mentirosos ficamos!

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