Outono da Vida
Outono da Vida
Uma das certezas que temos na vida é a de que, um dia, vamos morrer.
Num repente sentimos que estamos ficando mais sozinhos, mas, nem sempre mais próximos...
Deveríamos estar nos achegando cada vez mais... Mas, não é o que temos percebido.
A saída dos filhos que se casam e a chegada dos netos, a preocupação com o preparo do nosso futuro, a perda progressiva de nossas atividades profissionais, a idade que vem chegando e a certeza de que já não temos o mesmo domínio sobre as coisas.
Nessa reflexão lembrei-me de um depoimento que ouvi num retiro de um senhor com 85 anos de idade.
“Vou ali chego acolá, volto a sentar na velha e querida poltrona da sala e fico a conversar com as pessoas ausentes e entre essas pessoas lembrei-me de uma, muito mais que amiga: companheira, confidente, parceira constante na lida desta vida... E sinto que não estou só... Que beleza!
Sensação agradável esta – mesmo não tendo ninguém por perto – de não experimentar o vazio da solidão.
E quanta gente – que pena! – rodeada de multidões, se vê só, literalmente só...
E agora, sem forçar os olhos, na quietude do meu pensar, eis que sinto a presença daquela que foi minha companheira por mais de 40 anos.
Fui ajuntando as partes: seu andar, seu sorriso, seus ais, seu ir e vir pela casa, suas dúvidas, suas dores, sua fé...
Depois, sei não o que me deu, fui até o quarto e, engraçado, não suportei ver a cama desarrumada. E divisei sua figura indo e vindo, gestos há anos e anos, adquiridos e incorporados ao seu dia-a-dia. A ajeitar os lençóis, recolhendo os travesseiros. Pronto! A cama arrumadinha! Como ela gostava! Tudo como num passe de mágica... “Assim, silenciosamente, sem queixumes, sem reclamos com muito amor...”
Boas lembranças vividas não se apagam jamais e nos ajudam a viver o nosso outono da vida de maneira simples e natural como um sereno pôr do sol!
Pense nisso!
Ditinha Schanoski