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Publicado: Sexta-feira, 29 de junho de 2007

Os Que Desejam Legalizar o Aborto

Quer causar polêmica? Chegue a qualquer círculo de pessoas e jogue no meio da conversa a seguinte questão: quando começa a vida? O efeito é semelhante a jogar álcool em uma fogueira. Cada um tem uma resposta, cada um tem uma opinião. Ao fim de horas discutindo, termina-se como sempre. Uns não convencem os outros. Infelizmente não se chega a um consenso.
 
Já se foram os dias em que se considerava iniciar a vida quando o bebê deixava o útero materno. São poucos os que assim pensam. Se fosse verdade não seriam necessários tantos exames pré-natais, constatando a saúde dos bebês intra-uterinos. Logicamente falando, por que se preocupar com a saúde de quem ainda não nasceu e por isso não é considerado vivo?
 
Há quem delimite a vida através dos meses de gestação. Um feto só pode ser considerado “ser humano” a partir do sexto ou nono mês de vida intra-uterina. Antes disso é apenas um feto.
 
Vendo na ponta oposta desta corda, é como se alguém sugerisse que a partir dos 75 anos alguém já não é mais considerada pessoa humana. Afinal, também se trata de delimitar a vida através da idade. Nos dois casos podem-se desconsiderar quaisquer de seus direitos ou deveres. Podem tornar-se descartáveis.
 
Quando tive aulas de biologia na escola, aprendi que da união do óvulo e do espermatozóide surgia um novo ser. Cada parte trazia consigo uma carga genética que, interagindo, dava origem a uma nova pessoa. A isso é o que costumamos chamar de concepção. Na minha opinião, a vida começa nesse momento.
 
Mal comparando, é como na hora de coar café. De um lado temos o “pai café”, do outro temos a “mãe água”. Misturando os dois não temos mais nem apenas pó e nem apenas o líquido, mas outro “ser”.
 
Já que estamos especulando teorias, há também um “nascer filosófico”. Vamos partir da suposição de que uma mulher esteja grávida, mas ainda não saiba. Para ela aquela criança simplesmente não existe, por puro e total desconhecimento do fato. Como podemos nos preocupar com quem nem sabemos que existe?
 
Ao perceber os sinais de uma gravidez, fazendo depois os devidos exames e constatando o fato, essa mulher passaria então a conhecer a existência dessa criança que está para nascer. Só a partir disso é que então o bebê “nasce” para ela, podendo assim a mãe se preocupar com tudo o que diz respeito à gestação, ao parto e à vida futura de seu filho.
 
Todas essas teorias descritas acima causam muita discussão, principalmente quando se trata de falar em aborto. O mesmo acontece quando invertemos a roda e caímos no assunto da eutanásia. Na prática essas duas grandes questões da atualidade estão interligadas. No fundo, trata-se do desejo de alguns em delimitar o nascer e o morrer dos seres humanos, nem sempre movidos por interesses nobres.
 
Não aceito a doutrina da Igreja Católica apenas porque sou católico. Eu as aceito porque estão em completa sintonia com a racionalidade humana. Já dizia o saudoso João Paulo II que fé, sem razão, não é o ideal. Da mesma forma a razão, sem a fé, de nada serve.
 
Em um mundo que cada vez mais soterra os valores e reduz homens e mulheres, crianças, jovens e idosos a meros objetos com fins de consumo, é uma honra ser membro de uma instituição que se preocupa com a manutenção da vida acima de tudo, contra qualquer influência da cultura de morte que nos assombra nessa pretensa “modernidade”.
 
Não há quem negue as vantagens da medicina atual e todas as promessas que a pesquisa em engenharia genética poderá resultar, proporcionando mais qualidade de vida para nós e nossos filhos no futuro. Mas isso não nos torna deuses, com o direito de legislar sobre a vida ou a morte dos outros, mesmo que seja alegando motivos de “saúde pública”. Aliás, esse é um dos argumentos mais falaciosos que conheço, pois é como matar as vacas para acabar com os carrapatos...
 
Podem falar o que quiserem. Afinal, é para isso que lutamos tanto para viver em um sistema o mais próximo possível de uma democracia. Porém, quando se trata de falar sobre a aprovação de leis abortistas, ainda fico com a frase que li em e-mail recebido de um amigo, atribuída ao cardeal arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro, dom Eugênio de Araújo Sales. Dizia assim: “Os que desejam legalizar o aborto já estão todos vivos”.
 
Precisa dizer mais?
 
Amém.
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