Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Ocupações estudantis: legítimas e necessárias

Ocupações estudantis: legítimas e necessárias

Vejo textos aqui no site que tentam deslegitimar movimentos estudantis, movimentos populares, concentrações que visam bater de frente diante de toda a baderna do país (baderna essa que não vêm dos alunos, habitantes, protestantes).

Desta vez o foco do terrível texto que li foi a OCUPAÇÃO de escolas por alunos, com o título “Invasão na escola é falta de educação”. O erro começa no título do texto e em dois pontos. Primeiramente, o que acontece nas escolas hoje é ocupação, vendo que aquele espaço pertence justamente a quem está ali permanecendo.

INVASÃO, de certo, possui um sentido construído em torno de alguma ilegalidade. Como afirmam os dicionaristas, denota algo contrário ao juízo de valor social, algo reprovável. De seu turno, a OCUPAÇÃO mitiga essa ilegalidade e nos põe a par de um sentido mais brando, é posse legalizada de algo; significaria ter a posse legal de uma coisa abandonada ou ainda não apropriada. Ocupação, aliás, possui até mesmo um sentido outro: o de trabalho, de labor, de emprego de força intelectual ou física para auferir renda ou para produção de algo.

Em segundo lugar, os estudantes demonstram muita educação, sim, senhor autor. A começar pela sua coragem em confrontar medidas enfiadas goela abaixo. Além do mais, nas escolas ocupadas, os jovens criaram uma rotina de atividades. Eles se dividem em grupos para fazer a limpeza, garantir a alimentação, manter a segurança e atender às demandas da imprensa. Além disso, são programadas palestras, aulas abertas, debates e exibições de filmes.

A “doutrinação” que o senhor autor contesta vem muito mais do modelo ultrapassado que é apresentado, onde o aluno deve sentar, ouvir, não contestar. Onde o aluno é ensinado a não pensar. 

Justamente para quando existirem medidas como a PEC 241, que visa CONGELAR investimentos na saúde e na educação por 20 anos, sem medir vários fatores como crescimento populacional, por exemplo.

E imagino o quão intenso deve ser o trabalho para doutrinar 50 pessoas confinadas numa sala, com um salário de 9 reais a hora/aula. Às vezes, sem merenda. Às vezes, sem papel higiênico.

Se a sua doutrina ensina a não contestar, caro autor (vide certos escândalos que acontecem nela e que não convém comentar aqui, mas que todos sabem do que falo), os jovens GRAÇAS A DEUS, parecem não segui-la. As maiores mudanças conquistadas no país são através de mobilização popular, através de movimentos organizados por pessoas que não aceitam medidas governamentais que tirarão seus direitos e contestar isso é, se não mau-caratismo, burrice.

Todas as ocupações observadas são pacíficas e os momentos de violência vem através de ordens de quem não aceita que os jovens estejam pensando e, ainda, enxergando que tem coisa errada. Os momentos de violência vem da falida polícia, que controlada como marionetes e impondo sua autoridade através de suas fardas e armas, agem com truculência desnecessária. Porque, convenhamos, é um tanto quanto desnecessário usar spray de pimenta, armas, bombas em pessoas no exercício de seu direito.

E a “minoria” citada ocupa hoje mais de mil escolas em todo país. E para citar um exemplo prático da minoria, vamos citar a Ana Júlia, estudante que deu um PITO nos parlamentares. É só observar o quão pedagógica é a fala dela sobre as ocupações. E é desse tipo de jovem que vem o futuro, o que sabe contestar. Como a líder estudantil diz:

"A cada ano muitos adolescentes morrem dentro de escola. Talvez por agressões, uso de entorpecentes e até intolerância, mas isso não parece ser preocupação para o governo. Entretanto, morre um jovem dentro de uma ocupação pacífica e organizada e, de repente, parece que todo mundo se importa com as escolas"

Eu, como estudante, declaro aqui meu apoio aos que não abaixam a cabeça para um governo ilegítimo, para autoridades truculentas e lutam pela educação. Pela verdadeira educação. Que as ocupações não limitem-se às escolas, mesmo. Vamos às prefeituras, às delegacias, ao planalto, ao que for nosso. Pelos nossos direitos.

E aos outros, desejo sorte. Talvez o tempo usado para construir um texto em prol de atenção pudesse ser mais bem usado.

Comentários