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Publicado: Quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O voto

O TSE iniciou um ciclo mensagens pela televisão, eminentemente instrutivo, no sentido de que o cidadão zele pelo voto. Finaliza o recado com esta expressão: “Voto Limpo”.
Veio desse recado a inspiração de aproveitamento do tema para o texto que segue, eis que a matéria é vasta e abre espaço para muitos ângulos na sua apreciação.
Pois bem. As eleições estão aí.
Daqui a alguns dias, disciplinadamente, os eleitores se infiltrarão pelos corredores de escolas e prédios públicos. Uma espécie de coerção, bem dissimulada, de que se não pode fugir, sob pena de aborrecimento na vida particular, multas inclusive. 
E, para falar seriamente, preste-se atenção nesse dia, em que os cidadãos se cruzam nos arredores e dentro dos locais de votação. 
Veja-se a expressão fisionômica de cada um. Parece que prefeririam baixar a cabeça para fingir não ver os outros. Uma espécie de vergonha mútua e acanhamento, por serem todos protagonistas de uma mesmice, um verdadeiro faz de conta.
Em qualquer cidade é tão bom ser vereador, - prefeito então nem se fale - que nunca se viu tanta cobiça (não se usa a palavra “interesse”, porque além do sentido pejorativo, ela pode significar também algo nobre, - interesse coletivo por exemplo, - aqui fora de cogitação). 
Por que seria que, desta vez, viesse a se avolumar tanto o número de candidatos, à vereança em especial? 
Se não for a resposta principal, com certeza uma delas, a da confortável situação dos excelentíssimos representantes atuais. Na mesma linha, considere-se ainda a despudorada elevação dos salários, prevista para 2013. 
E por que esta suposição? Ora, pela campanha milionária de alguns daqueles que buscam a reeleição, empreendedores de estrepitoso trabalho, a mais parecer um carnaval fora de época, painéis e bandeiras em profusão. Com quantos veículos, os mais evidentes, contam nas ruas, se você se defronta com eles, numerosos e espalhados em todos os cantos.
Mas, entre quase trezentos candidatos, nenhum existe com possibilidades de reunir consigo condições aproveitáveis? Sim, claro, um bom número desses há de existir. Por isso mesmo, nenhum nome vai citado. O eleitor consciente e preparado deverá saber quem é quem. 
Permanece, no entanto, uma séria dúvida: a de que se a maioria seja ou não composta de nomes condignos ou mais de pessoas despreparadas e somente de olho no polpudo salário, sem um mínimo de condições para, a em si digna, atuação de vigilante do erário e representante fiel da causa pública.
Entra agora, finalmente, o dono do voto: o eleitor.
Terão pensado porventura os leitores de que tudo quanto se propalou até agora nestas linhas teve por escopo uma represália e desencanto para com os políticos já acomodados no poder e que, a despeito da decepção de sua conduta, poderão voltar para os mesmos lugares?
Permanecer na crítica aos profissionais da política seria até ingenuidade, porque eles estão revestidos de uma couraça que os torna indiferentes a qualquer clamor ou apelo à probidade.
A chamada, se assim se há de denominar esta conversa, longe da frustrada e inútil crítica a políticos de má fama, ela é direcionada por inteiro e muito especialmente aos eleitores.
É você uma boa pessoa? Tem capacidade, formação ou pelo menos estaria sinceramente voltado ao bem e à prosperidade para si e para o da comunidade? 
É?
Por que então não se candidata?
Sua índole e talvez seus afazeres não o permitam, quiçá. Que o seja. Isso também há de se entender. Tudo bem. Compreensível.
Mesmo assim, apure cada um o seu voto. 
Purifique-o. Limpe-o ciosamente. Dê-lhe brilho e somente depois o deposite na urna.
É exclusivamente para você, leitor e eleitor amigo, que vai a crônica de hoje.
Poucos se lembrarão de que um dia o mandato de vereador fora gracioso, sem remuneração. Exercido por isso mesmo com dignidade, honradez e até orgulho.
Um dia, uma decisão infeliz, o credenciou a ser remunerado. 
Infeliz herança de um mau momento da história.

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