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Publicado: Quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

O Velho Mestre

-          De um autor desconhecido, este poema dedicado à nobreza do professor, e de todos os profissionais que abraçam seu trabalho com amor, fazendo da vida uma profissão de fé e de esperança, era por mim declamado, e encenado, em minha infância, nas festas do querido Regente Feijó. Eu tinha, e tenho, muito, muito orgulho disso!
                                                                                     Sidarta Martins 
 
O VELHO MESTRE
 
Andava muito doente o velho professor.
Por isso ele já não tinha, agora,
O mesmo ardor que outrora o possuía,
E o animava dantes.
 
Às vezes, quando em aula,
- Havia mesmo instantes!
Em que inclinava a fronte,
Aquela fronte austera e cansada,
Onde já desabrochava a flor da primavera
E cochilava um pouco, involuntariamente.
O velho professor andava muito doente.
 
Mas, era tamanho o bem que nos queria
Que jamais quis pedir aposentadoria.
Era o primeiro a aparecer na escola
Com suas joviais maneiras tão simpáticas
Não obstante sentir umas dores reumáticas
Que o faziam sofrer muito, ultimamente.
O velho professor andava muito doente.
 
Um dia chegou mais tarde, alguns instantes.
Trazia, nas feições sérias de sofrimento,
A palidez do rosto.
Seus olhos encovados,
Denunciavam seus pesares ignorados
E, como que pra’ tornar a dor mais manifesta,
Cravara-lhe fundo uma ruga na testa,
Franzia-lhe a cara uma expressão de horror
Andava muito doente o velho professor.
 
A aula começou,
Mas pouco antes das onze,
O velho mestre, o bom trabalhador de bronze,
Que já perto de trinta anos, ou mais, havia
Que gigantesco herói, lutava, dia a dia
Para a glória da Pátria e para o bem da infância
Dando combate ao vício e à ignorância,
Sentindo uma dor nos agudos abrolhos
Curvou as nobres cãs, cerrou de leve os olhos.
 
Lá fora surgia o sol, a manhã era calma, risonha.
A natureza abria sua alma repleta de alegria,
E cheia de esplendores...
Pela janela entrava o hálito das flores,
Naquela atmosfera azul, lavada fina.
Ressoava baixinho, assim como em surdina,
Um canto celestial, harmonioso e suave,
Anjos tocando em suas harpas alguma canção de ave.
 
Nisso, ergue-se um aluno, um pândego, um peralta,
Fabricou de jornal um chapéu de copa alta
E... bem devagarinho,
(Que idéia travessa!)
Chegou-se junto ao professor e... zàs!
Enfiou-lhe o chapéu na cabeça.
O mestre nem abriu o sonolento olhar.
 
Ante aquele ato vil,
De traição!
De improviso,
Rebentou, uníssono, pela sala
Estardalhante riso.
 
De súbito, surgiu o diretor.
Demudou-lhe os gestos,
Estremeceu-lhe a fala, transtornado.
Transformando a mansidão de bois
Em fúria de leão,nos perguntou:
Quem foi?
Quem foi este vilão que fez tal brejeirice
Sem respeito algum às cãs desta velhice?
 
Ninguém respondeu,
Ninguém denunciou da brincadeira o autor.
Silencioso, sereno, como um dom
Dormia o velho professor.
 
O diretor, então,
Com doçura, chegou-se junto à mesa.
Via-se em seu rosto o incômodo, a surpresa,
De que o sono do mestre, assim se prolongasse.
 
Curvou-se meigamente e levantou-lhe a face....
Mas, tremendo, recuou.
Aterrorizado!
Aniquilado!
Mudo!
Absorto!
O velho professor...
Estava morto!
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