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Publicado: Quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O tempo de educar

O tempo de educar
Estamos escravizados... O tempo nos devora.

Em muitas situações, sobretudo quando as adversidades parecem não ter fim, avalio minha escolha profissional. Nessa hora, sempre penso que deveria ter optado por uma atividade profissional menos desafiadora, menos intelectual e, talvez, menos reflexiva. 

Pisar o chão da escola, dia após dia, e insistir no processo educativo, mesmo quando a sociedade cultua atitudes medíocres e opostas aos valores preservados na vida escolar, significa bem mais que investir na carreira profissional; significa manter-se firme a um projeto de vida, calcados a princípios e valores de condutas.

Lembro-me de um manifesto por mim escrito, há 10 anos, quando ainda acreditava em protestos e manifestos, e publicado num jornal local, expressando-me indignada aos valores deturpados de uma sociedade que valoriza Big Brother e despreza seus professores.  

Apesar de não mais acreditar em manifestos, continuo acreditando na educação como o primeiro caminho capaz de inspirar o melhoramento das relações pessoais e a estabilidade emocional. Educar é trabalhoso, requer paciência, disposição, tempo e dedicação. Por isso angustia. O caminho é longo e demorado. 

Isabel Parolin, psicopedagoga conceituada, tem investigado o tempo de educar. Recentemente em uma conversa profissional, me contou que a falta de tempo para educar filhos e/ou alunos está no inconsciente coletivo. Em suas pesquisas, constatou que a porcentagem de pais que atribuem para a vida corrida e para as necessidades individuais à justificativa para não dedicar mais tempo aos pequenos aprendizes é surpreendente.  A sociedade tem pressa e as tarefas do mundo adulto tomam todo espaço da agenda.  

É muito comum deixarmos as conversas reflexivas com os adolescentes ou as brincadeiras de infância com os pequenos para “um depois’ que nunca acontece... Estamos escravizados. Corremos o tempo todo atrás do dinheiro, das informações, da segurança, das tarefas da casa, dos compromissos profissionais, enquanto nossas crianças e jovens nos olham assustados e sedentos por atenção. 

Yvês De La Taille, psicólogo e professor da USP, é pesquisador do tema Moral e Ética. Em seu último estudo perguntou a milhares de jovens o que eles pensam sobre os adultos. As respostas não foram boas. A geração herdeira do mundo adulto nos enxerga como pessoas individualistas, egoístas e consumistas.  

Dessa forma, posso concluir que o sentimento que me instigou a escrever esse artigo não é reflexo da escolha profissional, mas de um tempo em que a urgência e a pressa da sociedade tem nos devorado.  Tem nos impedido de viver o tempo da descoberta, do aprendizado e do afeto. 

O que fazer? Como melhorar nossas relações e dar conta de um processo educativo mais próximo ao tempo da aprendizagem?

A própria reflexão temática e a consciência contextual já nos abrem possibilidades de ações. Mas aqui, nesse espaço e tempo, a canção do Legião Urbana pode bem nos ajudar:  “É  preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã...” 

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