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Publicado: Sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O ser humano, uma preciosidade. A lição do Chile

O homem viveu momento único e inesquecível, para o fuso horário brasileiro o ápice do acontecimento ocorreu na madrugada, quando um representante dos terráqueos pôs os pés na lua. Por causa do horário, talvez, muitos não tenham acompanhando na hora tão significativa ocorrência. Entretanto, a imagem correu todos os cantos e a humanidade vibrou com um feito de tamanha excepcionalidade. O homem se alçara aos céus, foi longe, ganhou a estratosfera, buscou outros mundos.

Agora, em 2010, o homem não subiu às alturas mas desceu terra adentro para içar irmãos laboriosos num ambiente diametralmente oposto, o fundo do chão, muito abaixo da superfície. O deserto de Atacama no Chile ganha hoje, neste 12 de outubro, foros de solo mundial, porque lhe dirigem os olhares e as atenções todos os habitantes da terra. A mesma empolgação e envolvimento emocional de povos de todos os quadrantes com a chegada à lua, se repete agora, mas com o foco na mina San José.

Muito verdadeiro o slogan que certo programa de televisão, de entrevistas, ao preconizar: Para o homem, o maior espetáculo da terra ainda é o próprio homem.

Faça a constatação, você próprio. Não delineia você frequentemente horizontes audaciosos que suas virtudes e dons lhe propiciam, mercê de sua capacidade e inteligência? Pois é. Se outro cidadão soma às suas as qualidades dele para benefício mútuo, os dois não se agigantam imediatamente? Imagine-se portanto se todos viessem a exercer suas forças na plenitude para o somatório e divisão posterior a todas as criaturas! Impossível? Pois numa proporção menor é o que nestes dias ocorre porque tudo se cinge a que ali vidas humanas não se percam.

Não à toa nem por acaso que todos os olhares se voltem para o país vizinho e irmão, o Chile que, poucos meses após o movimento de seu solo, vive esse drama de ver presos e isolados no fundo de uma mina os dedicados e humildes operários.

Todas as atenções e cuidados se concentraram numa única preocupação, a de salvar vidas. Uma lição exuberante de que se não fossem várias dezenas de cidadãos, um ser humano até, um único, mesmo assim iria merecer as iguais atenções. E tudo isso por que? Porque perdeu-se a noção do quanto um homem quer e preza outro homem e, se desavisado e provocado pela obrigação de sobrevivência, acaba muitas vezes por enxergar no próximo um desafeto ou um concorrente. Permitissem as pessoas mais calma no agir e no viver, iriam constatar que seguramente é a criatura humana o ser mais admirável entre os viventes. Cada homem,  cada mulher, cada pessoa, tem dentro de si tesouros inestimáveis, um mundo escondido e maravilhoso que, no entanto, pode também descambar para o mal.

Desde a noite de 12, a madrugada e o dia todo de 13 de outubro, será a marca neste mundo de Deus de que o homem no seu íntimo, mesmo sem se dar conta, ama naturalmente outro homem. Como se tornaram importantes para todos, aqueles cidadãos simples e desconhecidos. O que não se haveria de fazer para salvar-lhes a vida e devolvê-los às famílias e à sociedade.

E daí fica uma dura constatação: que tremendo engano e  desatenção quando se perfilam descaminhos a que nos levam a ganância, a insacialibidade. Afinal de contas, não foi nos céus nem noutros mundos que porventura existam ou venham a ser descobertos, que Deus colocou o ser humano. Aqui, a nível do solo, desde que com sabedoria e decência se criem riquezas e se faça delas uma distribuição equitativa, ninguem passaria necessidade nem viveria temores. As riquezas no seu plano natural – terras e águas – nos bastariam.

A abundância e o espírito de solidariedade a toda prova seriam o artigo único de uma carta magna e abrangente a reger os passos da humanidade sobre a terra, sem necessidade de limites, fronteiras ou divisas. Todos seriam por um e um seria por todos.

Quimera, não é? Sonho, sonho que entretanto esteve um dia às mãos do homem.

Por isso ganha relevo especial e notório quando um fato da dimensão do resgate dos mineiros chilenos acontece sobre a terra. Deveriam ser instantes e dias para serem celebrados e jamais esquecidos ou, ainda, plataforma de novas ações numa retomada para a convivência humana, solidária e feliz.

A data chilena se torna eterna.

Salvar os irmãos presos debaixo da terra implementa-se na história da humanidade com o mesmo galardão de importância de quando o homem chegou à lua.

Alcançou os páramos do infinito e também soube chegar ao profundo do solo que se pisa.

E tudo pelo homem e para o homem, até porque se o ter chegado à lua sob o primado da prepotência ou para daquilo simplesmente se apoderar a benefício de uma só nação, deixaria de ter sentido.

Deus seja louvado, toda vez que um sinal pequenino que seja possa emergir da mente humana direcionado para o semelhante ali do lado ou distante.

Deus seja louvado!

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